Cláudio Fonteles pede revisão da ditadura em livro didático

O ex-procurador Geral da República Cláudio Fonteles, um dos integrantes da Comissão Nacional da Verdade, quer que seja feita revisão da história do Brasil durante o governo militar, iniciado em 1964, nos livros didáticos usados em todas as escolas militares, assim como nas publicações usadas em escolas civis.

“Há que haver uma reformulação, aconteceu foi um golpe, foi uma ruptura do processo democrático”.

“Se você tem a lei que diz que o que aconteceu neste País foi um Estado que violou gravemente os direitos da pessoa humana, como é que isso se concilia com você ensinar aos jovens, aos escolares e mesmo àqueles jovens que devem fazer a carreira militar, que o papel deles é de interferir no processo político violentamente, torturar e matar? Não pode. É uma afronta ao quadro normativo”, disse Fonteles.

Por isso, prosseguiu o ex-chefe do Ministério Público Federal, “há que haver uma reformulação e dizer que o que aconteceu foi um golpe, foi uma ruptura do processo democrático”. “Temos uma Constituição para ser vivida e cumprida”, disse Fonteles, que já coordenou a comissão.

 

Militares são contra

As declarações de Fonteles incomodaram militares. O presidente do Clube Naval, almirante Veiga Cabral, disse que, assim, a comissão levará “distorções em relação à história do Brasil aos colégios”. Cabral queixou-se de que o grupo está “trabalhando de forma parcial” porque “não está ouvindo os militares”. “Quando se quer reconstituir, de fato, a verdade, é preciso ouvir os dois lados”, afirmou.

 

Rubens Paiva

No programa, Fonteles afirmou que todos os militares “convocados” a comparecer à comissão são obrigados a dar depoimento. Falando no caso da morte de Rubens Paiva, ele foi mais incisivo: “Se ela (a pessoa) não quiser depor, ela responde ao crime de desobediência. E se ela não quiser ir depor, ela pode ser conduzida coercitivamente. Não com violência, mas alguém a pegar pelo braço e a levar lá”.

Para o almirante, “esta é uma forma brutal de agir porque estamos em um estado democrático de direito e, neste caso, estão tratando de um assunto já julgado pelo Supremo Tribunal Federal”. “Você não pode arrastar o cara pelo braço para obrigá-lo a depor sobre um tema vencido. Não é assim que se reconstitui a história.”

 

Fonte – O Estado de S. Paulo

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