Santoro fez parte do grupo de representantes das entidades de direitos humanos ligadas às questões indígenas que esteve nesta semana no acampamento montado pelos índios na fazenda Santa Helena, em Caarapó, ao sul do estado. No último dia 17, o guarani-caiuá Denilson Barbosa, de 15 anos, foi morto a tiros e o corpo dele foi enterrado dentro da propriedade pelos indígenas que ocuparam a área um dia após o crime. O fazendeiro Orlandino Gonçalves Carneiro se apresentou à polícia e confessou que matou o adolescente, mas disse que atirou sem intenção de matar. Um irmão de Denilson, de 11 anos, e o cunhado, de 20 anos, estavam junto com a vítima e disseram em depoimento à polícia que o ruralista atirou para matar.
Segundo Maurício Santoro, o episódio retrata bem a realidade vivida pelos índios guarani-caiuá. Com a caça e a pesca escassa, eles saem das aldeias onde vivem o drama da superpopulação, em busca de alimento e água. Denilson e as duas testemunhas foram atacados por estarem pescando num açude que fica dentro da fazenda de Orlandino. Segundo os índios, o fazendeiro já havia ameaçado outros guarani-caiuá que foram pescar no local.
Logo que ocuparam a fazenda Santa Helena e montaram os barracos, os cerca de 300 indígenas afirmam teriam sido atacados e ameaçados por seguranças. Por conta disso, nove familiares de Denilson Barbosa, entre eles o irmão e o cunhado que testemunharam o crime, foram incluídos no programa de proteção a testemunhas, do Governo Federal. À polícia, Orlandino Gonçalves afirmou que estava sozinho quando atacou os indígenas. Mas as testemunhas afirmam que ele estava com seguranças quando chegou atirando. O delegado regional de Polícia, Carlos Videira, disse que para esclarecer esse fato o irmão e o cunhado de Denilson Barbosa terão que ser ouvidos novamente, mas isso terá que ser feito por carta precatória, pois agora que estão sob proteção e não podem ter a localização de onde estão morando informada, nem mesmo para autoridades.
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Presidência da República para investigar os casos de violação aos direitos humanos ocorridos no período de 1964 a 1988. No entendimento da Anistia Internacional, a situação que vivem os guarani-caiuá hoje é também reflexo do tratamento dado à questão indígena na época da ditadura.
Fonte – O Globo