Dos sete integrantes da Comissão da Verdade, a indicação da advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha para o grupo incomodou profundamente os militares, da reserva e da ativa. Rosa foi advogada da presidente Dilma Rousseff e de suas companheiras de cela na Torre das Donzelas, no presídio Tiradentes, em São Paulo, nos anos 70. Os militares entenderam a presença de Rosa como uma postura revanchista, negada sempre nos discursos da presidente da República. “Caiu muito mal nas Forças Armadas a presença da advogada. A comissão deveria ter um caráter de isenção e não de afronta”, disse um general da ativa, que optou por não ser identificado, nesta quarta-feira, após cerimônia de posse da Comissão da Verdade.
Perguntada sobre a resistência dos militares a seu nome, Rosa Maria respondeu:
“Quando se colocar no plano da discussão, é um direito deles (militares)”, disse Rosa Maria.
Presente na solenidade, o coronel da reserva João Batista Fagundes, representante das Forças Armadas na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, elogiou, com moderação, a composição da comissão e, como demais militares, receia o sentimento de revanche.
“A Comissão da Verdade é oportuna, mas não pode se enveredar pela questão criminal dos agentes do passado. A Lei de Anistia está em vigência e a própria lei que criou a comissão não prevê condenações. No meio das Forças Armadas, o receio é de que venham se abrir processos já albergados sobre o pálio refletor da anistia”, disse o coronel Fagundes.
Presentes na cerimônia, os três comandantes militares se mantiveram discretos e aplaudiram os discursos, mas sem empolgação como as centenas de convidados e ministros do PT. Logo que se encerrou a solenidade, os três comandantes – Juniti Saito (Aeronáutica), Enzo Peri (Exército) e Júlio Moura (Marinha) – deixaram o salão do Palácio do Planalto e não ficaram para cumprimentos e trocas de tapinhas nas costas
O advogado e escritor José Paulo Cavalcanti, da Comissão da Verdade, disse o grupo ainda definiria que casos serão apreciados. Ele afirmou que recebeu uma lista de 119 casos de atentados e assassinatos que teriam sido praticados por militantes da esquerda. “A comissão toda é que vai decidir o que fazer com isso”, disse Cavalcanti.
A psicanalista Maria Rita Kehl, também integrante, afirmou que os atos de militantes de esquerda, no entendimento dela, não serão apreciados. Ela afirmou que não considera dois anos, prazo estabelecido para a comissão funcionar, um tempo suficiente. Maria Rita foi questionada qual o sentido de uma psicanalista compor uma comissão como esta.
“Bem, vamos apurar e ouvir muita gente. A prática de escutar de uma psicanalista terá sua utilidade sim”, disse Maria Rita Kehl.
Fonte – Agência O Globo