Comissão da Verdade da UNE quer enfrentar o presente

A primeira reunião de trabalho da Comissão da Verdade da União Nacional dos Estudantes foi realizada na última sexta-feira (8), na sede das entidades estudantis, em São Paulo e contou com a participação do ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, “um militante à disposição da UNE”, como ele mesmo se definiu. Ou “um conselheiro de honra e um grande parceiro”, como disse o presidente da UNE, Daniel Iliescu. 

Estavam presentes também o jornalista do Instituto Vladimir Herzog, Sérgio Gomes; a historiadora Angélica Muller; o sociólogo da Fundação Perseu Abramo, Carlos Henrique Meneciozzo; o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Adriano Diogo; além de estudantes de todo o Brasil representando DCEs e comissões de estudo sobre o movimento estudantil.

Daniel Iliescu explicou que o objetivo da primeira reunião era planejar, pensar métodos, dinâmicas e roteiro de acesso aos documentos do arquivo nacional. Ele também entregou uma lista com a sugestão de 29 nomes de estudantes mortos na época da ditadura que seriam focos de investigação.

O jornalista Sérgio Gomes doou à UNE um livro ilustrado organizado pelo Centro de Documentação e Memória da UNESP com cartazes de resistência à ditadura militar. Para ele, é necessário recuperar também a memória das lutas ganhas pelo movimento estudantil. “Não se trata de recuperar só o passado, mas de realizar esperanças, identificar vidas e projetos que pararam devido às perseguições”, explicou.

O deputado Adriano Diogo disse que são 70 mil brasileiros registrados que foram presos e torturados. Ele contribuiu explicando como foram encaminhados e divididos os trabalhos da Comissão da Verdade da ALESP.

Os estudantes presentes sugeriram estimular os DAs (Diretórios Acadêmicos), envolver mais os estudantes nessa luta para que eles possam ser vanguarda na bandeira dos direitos humanos e terem viva essa memória de resistência ainda nos dias de hoje.

Foi consenso na reunião que o grande papel da UNE é de mobilização a respeito do tema. “Uma Comissão da Verdade existe principalmente para recontar essa parte da história para a sociedade, reconstituir narrativas e trajetórias individuais”, ressaltou o presidente da UNE.

Para o ex-ministro Paulo Vannuchi, a UNE tem que fazer valer sua força entre as Comissões da Verdade já existentes, funcionar como uma rede nacional, instruir comissões dentro das universidades e fazer a ponte entre o governo. Ele refutou a ideia de obsessão pelo passado. “Não esquecemos o futuro e por isso temos que lembrar do passado. Pela primeira o país faz uma reflexão formal sobre si mesmo. E quem conhece a sua história, a sua raiz, só pode ser para melhor.”

Serão organizadas duas frentes de trabalho para avançar nas investigações. Uma política, para encaminhar ações com as universidades do país, ações culturais, judiciais e com outros segmentos da sociedade. E outra técnica, para “por a mão na massa”, realizar pesquisas bibliográficas, buscar acervos e dialogar com outras comissões.

A preocupação da Comissão é trabalhar com um prazo de um ano para poder contribuir mais eficazmente com os resultados da Comissão da Verdade Nacional. “Mas a data não é uma prisão, podemos estender os trabalhos conforme haver necessidade”, destacou Iliescu.

A próxima reunião da Comissão da UNE ficou marcada para o próximo dia 15 de março às 14h, na Universidade de São Paulo (USP). O encontro ocorrerá logo após ao ato oficial de reconhecimento pelo Estado brasileiro de Alexandre Vannuchi Leme como anistiado político. Leme era estudante de geologia da USP e foi morto em 1973 em interrogatório do Regime Militar. Na época o governo afirmou publicamente que o estudante foi morto num atropelamento. Em 30 de março de 1973 foi celebrada uma missa em sua intenção que virou um verdadeiro protesto político na Catedral da Sé, e reuniu cerca de cinco mil pessoas.

 

Fonte – Vermelho

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