Audiência no Sul discute início da Operação Condor

Comissão da Verdade gaúcha vai ouvir depoimentos de presos políticos e parentes de desaparecidos; mais de 300 foram detidos entre 1970 e 1973.

Audiência pública da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul vai trazer a público amanhã informações sobre a onda de repressão desencadeada em Porto Alegre entre 1970 e 1973, com deslocamento de agentes de outras partes do País para a capital gaúcha. Também serão debatidas as ações da Operação Condor, sistema de colaboração entre os regimes ditatoriais do Cone Sul para prender perseguidos fora de seus países.

Dados compilados pelo colegiado indicam que mais de 300 pessoas foram presas naquele período, dos quais 70 eram militantes de organizações de oposição ao regime militar, segundo o defensor público Carlos Frederico Barcellos Guazzelli, coordenador da comissão gaúcha.

Alguns daqueles presos e parentes de desaparecidos vão dar depoimentos durante o painel “Graves Violações de Direitos Humanos”. Foram convidadas 12 pessoas que já relataram ou vão relatar suas histórias à comissão. Entre elas estão Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Paulo de Tarso Carneiro, Raul Ellwanger e Ubiratan de Souza, todos presos políticos, e Suzana Lisboa, cujo marido, Luiz Eurico Tejera Lisboa, desapareceu em 1972.

Militante do Partido Operário Comunista (POC), Ignez Maria Serpa Ramminger deve resumir o depoimento que já deu sobre o período em que esteve presa, entre 1970 e 1971, que levou a comissão a concluir que as mulheres foram vítimas de sessões específicas de tortura. “Ficou claro que existia uma tortura clara e brutal contra as mulheres na questão sexual”, afirma Guazzelli.

Condor. No painel da audiência pública sobre a Operação Condor, o presidente do conselho diretivo do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, vai sustentar que a aliança dos regimes do Cone Sul teve origem no Brasil. Krischke já levou à Comissão Nacional da Verdade essa informação, baseada em documentos e depoimentos obtidos pelo próprio movimento.

Um desses papéis é um informe reservado do Exército, de 19 de dezembro de 1970, que narra a prisão do ex-tenente-coronel brasileiro Jefferson Cardim de Alencar Osório, de um filho e de um sobrinho dele no porto de Buenos Aires, em operação de colaboração entre autoridades brasileiras e argentinas. Pai e filho foram enviados ao Brasil e o sobrinho, ao Uruguai. Osório se opunha ao regime militar.

A audiência da comissão gaúcha também terá um bloco específico de debate sobre a morte do ex-presidente João Goulart, ainda hoje motivo de controvérsias.

 

Fonte – O Estado de São Paulo

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