O encontro é uma forma de desvincular o papa das acusações
O papa Francisco receberá na próxima quinta-feira (21) Adolfo Pérez Esquivel, militante de direitos humanos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980. O ativista desmentiu as relações de Jorge Mario Bergoglio com a última ditadura militar argentina (1976-1983).
A informação foi revelada hoje pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. O encontro é mais uma forma de desvincular o papa das acusações de omissão e negligência no caso da prisão de dois padres jesuítas que trabalhavam em seu projeto social em Buenos Aires, na década de 1970.
Eles ficaram presos por cinco meses e foram torturados pelas forças de segurança do ditador Jorge Rafael Videla. Um dia após a escolha de Bergoglio como pontífice, Pérez Esquivel disse que ele não teve culpa das prisões.
“Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas acho que lhe faltou coragem para acompanhar nossa luta contra os direitos humanos nos momentos mais difíceis”, disse o ativista, em nota divulgada na última quinta.
Um dia depois, o Vaticano saiu em defesa do pontífice e disse que o argentino é vítima de uma campanha “caluniosa e difamatória” na Argentina, e chegou a citar as declarações do próprio Pérez Esquivel e de pessoas que dizem que Bergoglio protegeu perseguidos pela ditadura.
“Nunca houve uma acusação concreta e confiável contra ele. A Justiça argentina o interrogou uma vez, mas como pessoa informada dos fatos, e jamais o acusou de nada. Sua origem anticlerical é muito conhecida e evidente”, disse Lombardi.
Francisco Jalics e Bergoglio celebreram missa juntos em 2000
Um dos padres envolvidos no caso, Francisco Jalics disse em comunicado que se reconciliou com Bergoglio em 2000, durante missa rezada pelos dois juntos. “Depois disso, celebramos uma missa pública juntos e nos abraçamos solenemente. Estou reconciliado com ele e considero o assunto encerrado”.
Ele foi preso junto com Orlando Yorio em 1976, quando ambos atuavam em uma favela de Buenos Aires. No livro “O Silêncio”, o jornalista Horacio Verbitsky diz que Bergoglio, líder do grupo de ajuda, foi cúmplice ao denunciar os sacerdotes, considerados subversivos. No documento, Jalics atribui à “desinformação deliberada” a sua prisão junto com Yorio, e fala do período em que estiveram presos na ESMA, principal centro de torturas que funcionou em Buenos Aires no fim dos anos 70.
O padre frisa que nem ele nem Yorio tinham ligações “nem com a junta nem com a guerrilha”, mas mesmo assim foram interrogados por cinco dias e, segundo conta, ficaram presos de olhos vendados por cinco meses.
Fonte – Folhapress
Vídeo mostra Francisco mencionando violências contra padres na ditadura
O agora papa Francisco descreveu violências sofridas pelos padres ligados aos pobres durante a ditadura argentina (1976-83), ao prestar depoimento em 2010 como testemunha em um julgamento pelo sequestro de dois jesuítas, segundo vídeo postado nesta terça-feira pelo site do jornal Clarín.
O então cardeal Jorge Bergoglio depôs em sua condição de arcebispo de Buenos Aires como testemunha no julgamento pelos sequestros e torturas sofridos em 1976 pelos padres jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics, libertados cinco meses depois.
Bergoglio, que era chefe dos jesuítas em 1976, foi acusado por entidades humanitárias de não ter feito o suficiente para evitar as prisões.
No sábado, o Vaticano descartou de forma taxativa uma suposta cumplicidade do agora pontífice nos sequestros dos dois religiosos, enquanto que o autor da denúncia, o jornalista Horacio Verbitsky, reiterou no dia seguinte suas acusações no jornal Página/12.
“No final de 1975 e em 1976 percebi a preocupação normal de todos os padres que trabalhavam com esta opção (os pobres). Haviam matado Mujica, era uma referência indelével (…) e havia alguma violência a respeito de padres assim”, afirma Bergoglio, ao depor em 8 de novembro de 2010.
O então cardeal se referiu dessa forma aos assassinatos do padre Carlos Mugica em Buenos Aires nas mãos de um grupo de ultradireita em 1974, e do franciscano Carlos Murias e do padre francês Gabriel Longueville, cujos corpos foram achados crivados de balas em 1976, na província de La Rioja (noroeste de Buenos Aires).
Também se referiu ao bispo de La Rioja, Enrique Angelelli, assassinado em 4 de agosto de 1976, em uma ocorrência que a ditadura classificou de acidente de carro. Trinta anos depois, foi provado o homicídio em um processo no qual é julgado o ex-ditador Jorge Videla.
O site do jornal postou nesta terça trechos da audiência de Bergoglio como testemunha em dois vídeos que duram 10 minutos no total, e antecipa que nesta quarta difundirá grande parte do depoimento, que durou 3 horas e 40 minutos, segundo o Clarín.com.
Perguntado no julgamento se havia se reunido com Yorio e Jalics por ser então chefe provincial da ordem dos jesuítas, o cardeal Bergoglio respondeu: “Sim, e não só estive com os dois, como também com todos os jesuítas que trabalham nessa frente de ação com os pobres”.
“Era algo habitual que nos comunicássemos entre nós essas coisas para vermos a maneira de seguir atuando”, acrescentou, dizendo ainda que os dois padres “sempre tomaram medidas de precaução”.
Na semana passada, Jalics, de origem húngara e que foi viver no sul da Alemanha nos anos 1980, declarou-se em paz com o Sumo Pontífice a respeito desses fatos.
“Não posso me pronunciar sobre o papel do padre Bergoglio naqueles sequestros”, afirmou o padre. “Deixei a Argentina após a nossa libertação. Depois, tivemos a oportunidade de discutir os fatos com o padre Bergoglio, que nesse meio-tempo se tornou arcebispo de Buenos Aires.”
“Nós celebramos juntos uma missa pública. Estou em paz com o que aconteceu e considero a história encerrada”, declara, acrescentando: “Desejo que o papa Francisco receba as bênçãos divinas no exercício de sua missão.”
Os críticos de Jorge Bergoglio suspeitam que esteja envolvido no sequestro dos missionários jesuítas depois torturados em um centro de detenção conhecido por sua crueldade, a Escola de Mecânica da Marinha (ESMA).
O Vaticano rejeitou com veemência as acusações de conivência com a junta militar argentina feitas contra o papa Francisco, considerando-as “caluniosas e difamatórias”.
Fonte – AFP