Não foi dizer que não há perdão a torturador.
Nem esquecimento.
Que não há remissão para os que morrem todo dia, porque não enterraram seus mortos.
Ou que a Lei da Anistia não equivale a cumplicidade com os agentes do Estado que torturaram ou se omitiram.
Não foi isso o que marcou o discurso da Presidenta – o melhor de sua carreira.De Tancredo a Lula, as masmorras se fecharam
Não vai haver revanchismo – a palavra de consolo das carpideiras do regime militar – porque a Comissão da Verdade não reverá a Lei da Anistia.
A revisão iminente da Lei da Anistia se dará nas ruas, a partir do “Esculacho”, no Legislativo e subirá a escada do Judiciário, a partir da Primeira Instância, até chegar ao Supremo.
A Comissão da Verdade não apaga a condenação da Lei da Anistia na Corte dos Direitos Humanos da OEA.
O Brasil ficou menos marginal na Comissão da Verdade, mas ainda não pode olhar a Argentina no olho.
A Comissão da Verdade vai inevitavelmente informar e robustecer as ações judicias – queiram ou não os sócios do Clube Militar, os generais da ativa que dão entrevista em off ao Estadão, e os colonistas (*) de quepe (invisível).
Também não adianta o ministro tucano da Comissão da Verdade achar que é preciso ouvir o outro lado – “bobagem” que Paulo Sergio Pinheiro logo observou.
(Aliás, não poderia ser mais plano o discurso que o referido ministro tucano pronunciou na abertura da solenidade: a platitude exaltada !)
A sorte está trancada.
Dentro da Comissão.
Ali dentro ninguém entra mais.
Nem a Presidenta.
Nem o Albernaz ou o Ustra.
Os sete juízes vão trabalhar sob a intocável proteção da Democracia.
E este foi o ponto alto de um discurso soberbo.
O elogio da Democracia.
E o elogio dos presidentes que ajudaram a fincar 27 anos de horror à tortura imperdoável.
Tancredo, Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula.
O Brasil deve a eles esse primeiro passo: conhecer a verdade.
Porque Dilma realçou esse traço da sociedade livre: a continuidade.
De Tancredo a Lula e a Dilma, a única mulher e torturada deles todos, de Tancredo a Dilma o Brasil se preparou: trancou a porta das masmorras.
E agora vai conhecer os crimes dos torturadores.
A Democracia se expandiu com o discurso da Dilma.
E a Lei da Anistia virou uma excrescência.
Uma vergonha.
Que a mesma Democracia saberá corrigir.
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Fonte – Paulo Henrique Amorim, Conversa Afiada