Entre eles gostaríamos de destacar:
? 1) Yolanda Bettencourt Thomé: Talvez a mais antiga imigrante por motivos politicos na Bélgica. Ela nasceu no Brasil em 1921 e imigrou em 1964 para a Belgica seguido eu marido belga devidoa dificuldades que encontraram no Brasil apos o golpe militar Ele era lider sindical na fabrica onde trabalhava e ela educadora popular que trabalhou com Paulo Freire em Recife. Por serem considerados “subversivos” foram demitidos de seus trabalhos e perseguidos, e não encontraram maneiras de se manterem .Devido a a isso migraram para Belgica Aqui ela trabalhou na maior parte do tempo na” Entraide e fraternité” uma associaçao catolica mantida e fundada pelos bispos Belgas ,e apoiou em ajuda de regularizaçao e , bolsas de estudo , moradia, e reconhecimento de amuitos dos asilados politicos das ditaduras da America Latina . Assim como também apoiou os trabalhos no Brasil da :comisão pastoral da terra , comissao dos direitos de base, o centro de direitos humanos de SP entre outros, tendo apoiado tb o trabalho de Don Helder Camara e outros bispos brasileiros ligados a esses movimentos. .A Sra Yolanda foi contactada por nós e se prontificou a dar um depoimento de sua vida para o site do MeBrasil, infelizmente, o nosso depoimento nao teve tempo de acontecer pois ela veio a falecer aos 91 anos no ano de 2012 . Gostariamos de prestar essa singela homenagem a ela contando sua historia e publicando um dos textos que escreveu antes de sua morte.
Yolanda escreveu dois livros
A mulher no mundo de hoje de 1967 -Sociologia-ed vozes que faz parte do acervo da biblioteca do ciranda do livro e do arquivo do Me Brasil caso queiram conhecer um pouco a obra dela.
Crateus um povo e uma igreja em 1994 -Religião
Tristeza não tem fim, felicidade sim?
Yolanda Bettencourt Thomé (1920 Br-2012 Be)
Fico perplexa quando me perguntam: “Para você , o que é a felicidade?” Tento responder procurando nas lembranças aquilo que na vida me fez feliz,aquilo que provocou em mim,por momentos,uma emoção intensa de realização, de bem estar, de plenitude. Arriscando-me a parecer ingênua ou piegas, ou a servir-me de chavões sempre repetidos, tiro do meu baú as recordações que iluminaram e que iluminam ainda a minha existência.
O encontro com um homem que me amou, desejou, acarinhou,cujo olhar me revelou a mim mesma e junto a quem me senti segura e confiante. A alegria de acolher amigos na nossa casa. De contar-nos à noite o que havia sido o nosso dia. De vê-lo chegar com um buquê de flores na mão. De escolher juntos um móvel ou um objeto. De jogar uma partida de scrabble. Ou de sair juntos para caminhar,de mãos dadas.
Um grande numero de amigos com quem dividi alegrias e preocupações, telefonemas, cartas e orações. Presentes ou ausentes eles estão sempre comigo,mesmo quando se foram de vez. Vivem em mim. Deram-me muito e devo-lhes grande parte do que sou hoje.
Dar um mergulho na natureza, na exuberância ou no silencio da natureza. Mergulhar numa piscina natural formada por um rio que cascateia na floresta, sobrevoado por grandes borboletas azuis. Admirar um pôr do sol à beira mar. Enfiar os pés no grande manto de neve virgem que recobre os campos. Escutar os pássaros cedinho de manha. Montar a cavalo sem rumo definido, passando por trilhas desconhecidas.
Acertar aquilo que empreendo e do que gosto: conversar, ler , escrever,compreender, lutar com outros pela justiça ou, mais prosaicamente, tricotar uma manta para um bebê que vai chegar.
Fazendo essa lista, ainda não defini aquilo que, para mim, é a felicidade…apenas fiz um rol de momentos felizes. Como fios que tecem uma trama. Mas que também por vezes se esgarçam, quebram ou se encolhem…
Porque a felicidade não é nunca uma coisa estável e definitiva, que veio para ficar.
Mesmo tendo a sorte de ter nascido num país incrivelmente belo, numa família unida, de ter encontrado gente generosa que me deu a sua amizade, de ter recebido mais do que o necessário para viver e crescer, passei ainda assim por períodos tormentosos, de cinza e nevoeiro. Planos, chatos, sem relevo, sem projeto, sem sopro interior.
Creio que a felicidade, ou antes, a capacidade de tecer uma trama coerente e colorida a partir dos acontecimentos da vida, vem de dentro de mim mesma. Saber para que vivo e sobretudo para quem. Encontrar-me naquilo que faço.
Parece-me que é uma questão de desejo e de concordância.
Se não tenho nenhum desejo, sêde de nada e nada me faz falta,se não estou tensa em direção a alguma coisa ou a alguém, não estou feliz. Corro o risco de abastar-me, de qualquer sempre mais sem nunca estar satisfeita. Voltada para mim mesma, fechada, exigente e amarga
Se não há concordância ou harmonia, isto é, se o lugar onde moro, as pessoas que me cercam, o trabalho que realizo estão no oposto do que eu sou, então é difícil encontrar-me, desabrochar aquilo que levo em mim, voltar-me para os outros, descobrir a beleza das coisas.
Gosto da imagem de Antônio Machado;”caminhante,fazes o caminho ao caminhar”. Nada é dado de antemão, tudo fica sempre por descobrir, re descobrir,re-encontrar ,re-equilibrar ,re-construir.
Carrego uma grande frustração,a de não ter tido filhos. Vivi períodos de muito sofrimento. Doenças longas e dolorosas dos sobrinhos que morreram na flor da idade. A morte me levou muitas das pessoas mais queridas:- irmão, marido, amigos. Custou tempo para me acostumar a viver só.
Mas hoje posso dizer que sou feliz,quero dizer em paz Procurando integrar na trama cada dia novos fios até o momento em que deverei parar de tecer. Descubro que cheguei a idade de abrir mão, de não querer controlar tudo nem tudo prever. Acolher o que vem do melhor modo possível.
Uma coisa no entanto amortece minha alegria: a de saber, ouvir e ver as injustiças, os sofrimentos, as guerras e a violência que laceram e despedaçam o nosso mundo. Tomo parte em manifestações de rua, assino petições, mas tudo isso e derisório face ao tamanho dos problemas. Faço-o apesar de tudo porque é o que esta a meu alcance.
Há gente agora para quem a felicidade seria um prato de comida, ou um copo de água fresca. Um teto de casa. Um sorriso ou uma mão estendida. Uma prótese para substituir a perna levada por uma mina. A segurança de um amanha sem medo. Coisas simples e essenciais que fazem cruelmente falta. Oscilo entre a consciência meio envergonhada de meus privilégios e a esperança de criar com eles espaços de paz de que andamos hoje tão precisados.
? Susana Roosberg cineasta ,cuja linda historia se encontra na nossa pagina de historias pessoais. Vive na Belgica desde 1967 Susana é a realizadora do documentário ”Brasileiros como EU” filme de grande sensibilidade que conta as agruras e os sucessos de muitos de nossos contemporâneos nessas terras geladas Belgas
Brasileiros como EU Susana Rossberg 2008
aos interessados em ver o filme contactar susana.rossberg@skynet.be
Inez Oludé da Silva: Natural de Pernambuco, chegou na Bélgica em meados dos anos 70 Artista plastica, criadora da Bienal de Artes brasileira em Bruxelas , também migrante politica mantem uma pagina de memórias ,onde varias de suas historias estão colocadas . Temos uma excelente entrevista de Inês na nossa pagina de historias a qual também irei transcrever aqui
Memorias do Exílio. pagina de Inêz OLudé
HISTORIA Inês Oludé
? Maria Sueli Peres de Farias exilada na Bélgica desde 1974 , saiu do Brasil em 1972 como perseguida politica e se exilou no Chile ate 1973 ,quando apos o golpe militar imigrou para a Europa , veio parar por acaso na Belgica e ficou vivendo aqui até os dias de hoje . Psicoterapeuta , faz parte do núcleo do PT na Bélgica que foi re -fundado em outubro de 1997 Esperamos que em breve possamos publicar essa linda historia de vida e de imigração que pode ser encontrada parcialmente no documentário Brasileiros como Eu
Fonte – MEBrasil