COMISSÃO DA VERDADE NO DIVÃ

Uma das sete personalidades da Comissão da Verdade empossada solenemente essa semana, a psicanalista Maria Rita Kehl, provavelmente trará uma dose extra de controvérsias.Suas declarações efetuadas no mesmo dia da posse são sinalizadoras: “Em menos de 40 anos,a presidente Dilma Rousseff estava no pau de arara e hoje está chefiando as Forças Armadas. Isso é uma glória para o Brasil. Mais importante do que ser mulher é o fato de ser ex-guerrilheira”.

Continuou: “Certamente altas patentes militares sabem que essa comissão não tem caráter punitivo. Então por que a mera divulgação os incomoda tanto? Há hipóteses. A otimista seria que tem vergonha do que fizeram. Mas a pessimista, ou realista, é: existe um gozo na teoria psicanalista, que é o gozo proibido. Tão sem freios que no limite é mortífero”.

Usando o exemplo de Sade, prosseguiu: “A pessoa que esta diante do corpo inofensivo dispondo dele a seu bel-prazer, está gozando”. Kehl tem em seu histórico a demissão do jornal Estado de São Paulo por ter publicado na véspera das eleições de 2010, um artigo “Dois pesos…”, onde defendia a candidatura de Zé Serra e batia naqueles que desqualificavam os votos dos mais humildes. Seu currículo é rico:foi editora do jornal Movimento, que disputava com o Pasquim e Opinião o segmento independente na Ditadura. Sua tese de mestrado na USP “O papel da Rede Globo e das novelas da Globo em domesticar o Brasil durante a Ditadura Militar”, tornou-se fonte de consulta.

A Comissão foi criada com a finalidade de: “Examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. Pretende analisar casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres.

A comissão foi composta pessoalmente pela presidenta, contemplando personalidades com diferentes posicionamentos políticos, participações antagônicas e a sua instalação foi prestigiada pelos ex-presidentes, como FHC, que clamou ser a “Reconciliação Nacional” seu objetivo – todavia, tudo pode ocorrer.

A posição de Kehl é pessoal, contudo, os estudos de Ori e Rom Brafman mostram que as pessoas do contra e a divergência de posições em um colegiado são indispensáveis, amadurecerão o seu trabalho;mas a contribuição de Hannah Arendt,sobre a Banalidade do Mal, será um realidade a ser enfrentada com conseqüências imprevisíveis.

 

Fonte – Gazeta de Alagoas

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