Vivíamos momentos de grade evolução com o histórico movimento pelas Diretas Já, que representou um divisor de águas na história recente do nosso país. As mobilizações populares, que tiveram início em 12 de janeiro daquele ano num comício histórico na Boca Maldita de Curitiba, se espalharam por todas as cidades e estados do Brasil.
A mudança na Constituição Federal, proposta pelo deputado federal Dante de Oliveira, foi rejeitada por 22 votos no Congresso Nacional, mas mostrou que aquela era a vontade da população. Desejo que se concretizou em 1990, quando finalmente voltamos a eleger nossos presidentes e prefeitos das cidades localizadas em áreas de fronteira, consideradas de segurança pelo regime fardado.
A votação da emenda coincidiu com um gigantesco comício na Praça da Sé, em São Paulo. Agora, passados 29 anos daquela data histórica é necessário resgatar alguns fatos e personagens que participaram da campanha contra aquele regime discricionário e para que pudéssemos voltar à democracia e o voto direto.
Nos quase 21 anos da ditadura militar, que foi de 1964 a 1985, não foram poucos os companheiros e companheiras que pagaram com sofrimento e em muitos casos com a própria vida na defesa por esta liberdade. Liberdade que havia cassada junto com os direitos quando da edição do Ato Institucional Nº 5 , o famigerado AI-5.
O estudante Antônio dos Três Reis de Oliveira é um exemplo muito próximo da gente. Membro da União Paranaense dos Estudantes, ele e seus companheiros se opuseram aquele sistema que impedia o livre arbítrio.
Antônio dos Três Reis de Oliveira morreu executado junto com a namorada em 1970 numa casa no interior paulista. Pior que esta atrocidade, até hoje a família não conseguiu o direito de enterrar seus restos mortais.
Com o jornalista Vladimir Herzog não foi diferente. Morreu enforcado no interior de uma prisão paulista em 1975. Os coronéis da ditadura informaram que Herzog, então com 38 anos de idade, havia cometido suicídio.
Esta tese só começou a ser contestada quando o rabino Henry Sobel não aceitou fazer o sepultamento do jornalista, na área reservada aos suicidas em cemitérios judeus. Recentemente o Governo Federal corrigiu esta atrocidade e concedeu à família de Herzog um novo atestado de óbito, informando que ele foi assassinado pela ditadura.
O movimento pelas Diretas Já contribuiu fundamentalmente para o fim da ditadura militar e a retomada da vontade popular. O PMDB, na figura do nosso eterno presidente Ulysses Guimarães junto com lideranças das mais variadas vertentes ideológicas políticas, artísticas, literárias, entre tantas outras, participou ativamente das manifestações por todo país. Isso é fato histórico.
No Paraná os atos de repúdio pela volta da democracia eram convocados por figuras de proa do partido. O PMDB abriu o famoso comício da Boca Maldita de Curitiba com Tancredo Neves, José Richa (governador do Paraná, à época), Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Franco Montoro, Roberto Requião, Álvaro Dias, com a atriz e deputada Bete Mendes e personalidades como Osmar Santos, Raul Cortez, Dina Sfat, Ruth Escobar, Martinho da Vila, Irene Ravache, Fafá de Belém, Wando e Belchior.
Mais de 50 mil pessoas se amontoaram naquela noite. O movimento pelas Diretas Já fortaleceu a vontade popular no Paraná e se espalhou de forma espontânea por todo o Estado.
Nesta época era prefeito de minha cidade, Arapongas, onde fizemos uma grande manifestação com todos aqueles que queriam o fim da repressão. E assim se sucedeu em Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa, Cascavel, Toledo…
Temos que aproveitar estas datas históricas para lembrar um pouco da nossa história. A Emenda Dante de Oliveira resumiu o desejo de toda a Nação, um desejo que hoje em dia se faz pleno.
Viva a democracia!
Por Waldyr Pugliesi – foi deputado federal constituinte, em 1988, é fundador do MDB/PMDB no Paraná e atualmente é deputado estadual.