Há 49 anos, o navio Raul Soares virava prisão flutuante no Porto de Santos
Navio Raul Soares chegou ao Porto de Santos em 24 de abril de 1964 (Foto: Reprodução)
Santos, sexta-feira, 24 de abril de 1964. Passavam poucos minutos das 8 horas, quando àquela embarcação de casco negro e grandes chaminés, chegava ao Porto de Santos de forma inusitada: veio rebocada desde o Rio de Janeiro, pois já não tinha forças para navegar.
Era o navio Raul Soares, de tão triste lembrança para o movimento sindical, que transformado em presídio flutuante. Veio para servir de prisão para líderes sindicais, estudantes e políticos que se opunham a ditadura militar instalada naquele ano no Brasil.
Ficou ancorado num banco de areia bem próximo à Ilha Barnabé e lá permaneceu até 23 de outubro daquele ano. Foi um período sombrio para a história do sindicalismo, de Santos e do próprio País. Uma história escrita com dor, tortura, sofrimento, mas também com luta e superação.
Todo o drama de presos e seus familiares, foi contado com detalhes pelo Diário do Litoral na série de reportagens Navio-prisão: democracia à deriva, publicada de 23 de outubro a 2 de novembro de 2.012, e que serviu de indícios para que a Comissão da Verdade, do Governo Federal, iniciasse a apuração sobre o que ocorreu naquele presídio flutuante.
O DL trouxe dos Estados Unidos o médico alemão naturalizado americano, Thomas Maack, que foi homenageado pela Câmara de Santos. Ele foi um dos pressos e personagem do navio-prisão.
O jornal ouviu também o sindicalista portuário, Argeu Anacleto, outro preso do navio Raul Soares, umas das poucas vozes que restam daquele período e que falam de dor e sofrimento e também da superação.
Maack fala de dor e sofrimento no navio-prisão
Lembrando a triste memória da história do navio Raul Soares, escrita por torturas e opressão aos sindicalistas de Santos, o médico Thomas Maack emocionou-se ao relembrar os meses em que foi obrigado a viver confinado em alto mar, antes de fugir e exilar-se em Nova Iorque, onde construiu sólida carreira na área médica.
“Se a ditadura falhou em quebrar a minha resistência, é por causa do apoio e sustento dos meus companheiros de prisão, principalmente os sindicalistas de Santos”, lembrou Maack em sua vnda a Santos, em novembro de 2012.
O especialista em pesquisas médicas nasceu na Alemanha e veio para o Brasil com poucos mêses de vida. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da USP e aqui viveu até os 29 anos, quando foi forçado a sair do país. Um dos presos políticos do navio-prisão Raul Soares, Maack atendia os sindicalistas capturados pelo Regime Militar durante o período de cárcere. “Enquanto eu exercia a atividade médica, os meus companheiros prisioneiros me curavam emocionalmente”.
E concluiu: “Nós queremos saber a verdade. Quem mandou o navio-prisão Raul Soares para Santos? Qual foi a linha de comando? Porque é sabendo a verdade que se evita não só as Ditaduras futuras, mas também a ruptura de princípios democráticos dentro de sistemas como nós temos presentemente”.
O médico Thomas Maack ficou preso no navio (Foto: Divulgação)Fonte – Diário do Litoral