Apesar do esforço, informações desencontradas, supostas destruições de documentos e falta de colaboração minam a tentativa de reescrever a história do país.
Veja casos nebulosos da ditadura que seguem sem respostas
A identidade dos verdugos de Vladimir Herzog e Rubens Paiva e os alvos da Operação Condor são exemplos de casos inconclusos, lacunas que embasam as críticas de familiares de mortos e desaparecidos e de estudiosos da ditadura.
— O Brasil faz de conta que investiga — lamenta Crimeia Almeida, guerrilheira no Araguaia.
Há 40 anos, a senhora que hoje vive em São Paulo se embrenhou na floresta pela revolução socialista que derrubaria os militares. Militante do PC do B, perdeu o marido e o sogro, André e Maurício Grabois. O governo criou um grupo para encontrar cerca de 70 corpos, as famílias tentam fazer o mesmo por conta, mas a localização segue desconhecida.
A teoria do envenenamento de João Goulart, em 1976, também aguarda esclarecimentos. Neto do ex-presidente, Christopher Goulart defende a exumação do corpo. No entanto, não há garantia de que o procedimento apontará o suposto veneno, como destaca a perita judicial Beatriz Monteiro, ligada ao Ceninper, centro que atuou na exumação de Dom Pedro I.
— Tudo depende de como foi feita a colocação do corpo, a forma como a urna foi acondicionada, se o corpo já foi submetido a alguma exumação — explica Beatriz.
Os críticos alegam que os avanços recentes não passaram pela comissão. A prisão de Rubens Paiva e a tentativa de ocultar o ataque do Riocentro foram confirmadas por meio do arquivo pessoal do coronel do Exército e ex-chefe do DOI-Codi carioca, Julio Miguel Molinas Dias, assassinado em Porto Alegre. As informações foram reveladas no ano passado por ZH. Já no caso Herzog, a família obteve na Justiça a correção do atestado de óbito de Vladimir, torturado e morto.
— O novo atestado só derrubou a farsa criada sobre a morte do meu pai, mas queremos que levem a julgamento os responsáveis — desabafa Ivo, filho do jornalista.
Coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro promete dar respostas às cobranças:
— No início da comissão houve um certo desencontro sobre o que ela era. Compreendo a frustração dos movimentos e dos familiares, porque o que eles esperavam é a luta contra a impunidade. Mas, o nosso relatório será contundente e vai servir à Justiça, que certamente será feita. A situação vai estar muito melhor do que era antes. A luta contra a impunidade está no nosso horizonte.
A busca de respostas no Exterior
A Lei de Acesso à Informação determina que documentos sobre violações dos direitos humanos se tornem públicos. Contudo, familiares de vítimas e pesquisadores questionam se os arquivos da ditadura foram ou serão abertos de fato.
— A afirmação de que documentos foram destruídos é uma farsa. Ainda tem muita coisa escondida — assegura Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
Um caminho para driblar restrições é buscar acervos de outros países, como mostra o filme de Flávio Tavares e seu filho, Camilo. Em O Dia que Durou 21 Anos, os jornalistas recorreram a documentos americanos para comprovar a intervenção da Casa Branca no golpe que derrubou o presidente João Goulart em 1964.
Jair Krischke incentiva a consulta de arquivos estrangeiros, procedimento que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência vem realizando na América Latina e nos Estados Unidos. A busca em acervos particulares é outra via para esclarecer os episódios. Um exemplo famoso foi o baú do general Antonio Bandeira, aberto no final dos anos 1990, recheado de cartas, discursos, livros e fotografias sobre a ditadura.
A Comissão da Verdade tem autorização para buscar estes arquivos, o problema é quebrar o silêncio e localizá-los. Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, Victória Grabois cobra maior empenho do governo federal.
Fonte – ZERO HORA – BRASÍLIA