Grupo quer Comissão da Verdade em São Gonçalo

“Podem matar uma ou duas rosas, mas nunca impedirão a chegada de uma primavera”. A afirmação do revolucionário Ernesto Che Guevara é o lema que impulsiona a professora Lourdes Duque Estrada, de 60 anos, e mais 10 amigos, pela instauração de uma Comissão Municipal da Verdade em São Gonçalo.

Grupo liderado por Lourdinha defende ideia como forma de resgatar a história de vários

O grupo tem se mobilizado com o objetivo de resgatar histórias de homens e mulheres que lutaram contra a ditadura militar (1964-1885) e que, por conta de seu posicionamento ideológico, foram presas, torturadas, mortas ou que até hoje estão desaparecidas.

“Não podemos deixar que o feito destas pessoas seja esquecido. Eles morreram por acreditar em um país mais justo, onde o filho do pobre pudesse desfrutar dos mesmos diretos assegurados ao filho do rico”, salienta a idealizadora do grupo, filha do metalúrgico Degenildo Silva Pinto.

Inspirados na iniciativa dos militantes que pautaram a implantação da Comissão Municipal da Verdade em Niterói, sancionada pelo prefeito Rodrigo Neves no mês passado, o grupo já busca parcerias com outros defensores e, segundo Lourdinha, como é mais conhecida, já conta com o apoio de figuras importantes do município, como o presidente da OAB-SG, José Luiz Muniz, cujo pai também foi preso durante a ditadura.

“São Gonçalo, assim como Niterói também teve muitos presos políticos. A ideia é unir forças e fazer as investigações juntos. A luta é a mesma”, destacou Lourdinha.

Locais de tortura -Lourdinha explicou que, assim como a Casa de Tortura de Petrópolis, hoje Casa da Vida, os lugares onde combatentes do regime foram mantidos presos e interrogados em São Gonçalo devem ser investigados.

“Membros do DOI-CODI levaram muitos militantes para onde funcionava a Polinter, em Neves, inclusive o meu pai”, contou.

O vereador gonçalense Professor Paulo (PT) elogiou a iniciativa e se disponibilizou a conversar sobre a proposta.

 

Filha contou a luta do pai em livro

Um atentado, quatro prisões, semanas consecutivas de tortura e um aneurisma cerebral que o matou aos 76 anos. Momentos que marcaram a vida de riscos e ideais do piloto de lancha Degenildo Silva Pinto são contadas pela filha Lourdinha no livro “Trajetórias de um Revolucionário”. Publicada em 2011 com uma tiragem de apenas mil exemplares, a obra retrata também os passos da própria Lourdinha nos movimentos de crítica à ditadura, sempre tendo o pai como inspiração.

“Era a primavera a que ele se referia com a frase do Che. Não só eu, mas todos os filhos daqueles que defenderam a igualdade e o fim da exploração”, explica.

Lourdinha já estava atrelada aos ideais revolucionários mesmo antes de nascer. A mãe, Zélia Pinto, grávida dela, foi atingida por policiais durante um comício e não resistiu aos ferimentos; porém, os médicos conseguiram salvar a criança.

Na casa onde mora com a filha, no Boassu, Lourdinha guarda relíquias das quais muito se orgulha, entre elas um DVD com a filmagem do último aniversário de Luís Carlos Prestes, uma referência a todos que combateram a ditadura.

Lourdinha recebeu, em junho do ano passado, um termo de reparação do Governo do Estado pela prisão e tortura cometida contra seu pai.

 

Fonte – O São Gonçalo

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