Comissão da Verdade: Ex-militar relata execução de militantes

Comissão da Verdade de SP ouve ex-militar que testemunhou prisão, tortura e execução de militantes

Nesta quinta-feira (16), ocorre nova audiência pública, organizada pela Comissão da Verdade de São Paulo. A audiência, que terá início às 14h na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), irá ouvir o depoimento do ex-soldado do Exército Valdemar Martins de Oliveira, testemunha da prisão, tortura e execução de Catarina Helena Abi-Eçab e João Antônio Santos Abi-Eçab em novembro de 1968. Com esse depoimento vêm a tona mais uma das atrocidades cometidas pela ditadura civil-militar.

 

João e Catarina

Os dois estudantes que foram assasinados eram militantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e se conheceram quando eram estudantes de filosofia na USP. Em 1967 joão esteve detido no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), foi indiciado por terrorismo e foi liberado pelo habeas corpus, que ainda não havia sido suspenso, o que só se daria com a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) no ano seguinte. O dois se casaram em 1968.

 

Versão oficial

Segundo a versão oficial os dois teriam morrido em uma acidente de carro, no dia 8/11/1968, cinco dias antes do AI-5. A versão do acidentente ganhou contornos mais expetaculares quando se aventou também a possibilidade da morte do casal ter sido causada por uma explosão no carro, que seria o efeito do malfuncionamento de explosivos que eles estariam transportando. Cataria tinha na época 21 anos e João, 25.

 

Verdade

A versão da ditatura foi refutada quando a família autorizou a exumação dos corpos, e então se concluiu que os dois haviam morrido em consegüencia de um “traumatismo crânio-encefálico” causado por “ação vulnerante de projétil de arma de fogo”, ou seja, teriam sido executados com um tiro na cabeça.

O ex-militar Valdemar Martins de Oliveira, que fará declaração na audiencia de amanã, afirmou em entrevista concedida ao jornalista Caco Barcellos que no início de sua carreira militar foi designado para fazer missões de espionagem, e que uma delas teria sido a missão onde testemunhou o assasinato, a prisão e a tortura do casal no sítio de um coronel do exército em São João do Meriti (RJ).

A Comissão da Verdade já realizou diversas audiências públicas onde colheu testemunhos de ex-militantes e seus familiares que ajudassem a esclarecer os crimes cometidos pela ditadura, esta será, no entanto, a primeira vez que alguém ligado institucionalmente ao regime será ouvido. O depoimento será importante por este fato inédito, e se soma aos passos que que ja foram dados em direção a um direito inalienável da população, o direito a memória histórica de seu país.

 

Fonte – Caros Amigos

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