Ditadura militar: a protagonista da Copa de 78 na Argentina

Jorge Rafael Videla com os jogadores argentinos, em 4 de julho de 1978: vitória sob suspeita Arquivo

A Argentina vivia duas situações muito distintas em 1978: o medo e a repressão de uma cruel ditadura militar e o êxtase por sediar uma Copa do Mundo, a qual venceria de maneira polêmica. Os olhos do mundo estavam voltados para o país e os militares viam o Mundial de 78 como uma oportunidade de recrear a população, fazendo-a se esquecer, nem que por alguns dias, das atrocidades que vinham sendo realizadas pela junta composta por Emilio Eduardo Massera, Orlando Ramón Agosti e Jorge Rafael Videla, considerado o presidente de facto. Este último, morto de causas naturais na manhã desta sexta-feira, usou a Copa do Mundo para melhorar sua imagem. Mas a menos de um quilômetro do estádio Monumental, palco da final contra a Holanda, vítimas da ditadura eram torturadas na Escola de Mecânica da Armada.

– Enquanto gritam gol, abafam os gritos dos torturados e assassinados – descreve Estela Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, no documentário “La Historia Paralela”.

Especialistas acreditam que a euforia de sediar e vencer um Mundial ajudou silenciar por meses o que ocorria no país. Até hoje, a Copa de 78 desperta polêmica. Videla teve seu nome envolvido em escândalos ventilados nos bastidores dos estádios e que, até hoje, não foram apurados de maneira esclarecedora.

Ao chegar às semifinais, a Seleção Argentina, capitaneada por Daniel Passarela, deveria vencer o Peru por quatro gols de diferença se quisesse tirar a vaga do Brasil, que vencera a Polônia por 3 a 1. O que parecia uma missão quase impossível, porém, se tornou um grande chocolate, cercado de mistérios e de troca de acusações.

Em Lima, os peruanos não acreditaram quando, ao término do jogo, viram sua seleção atropelada pelo placar de 6 a 0. Os brasileiros também demoraram a crer. Foi um jogo atípico, bem como foram os fatos que o rodearam. A começar pelo horário da partida, adiado para duas horas depois de terminada a semifinal disputada pelo Brasil. Assim, os argentinos saberiam quantos gols deveriam fazer.

O temido general Videla visitou o vestiário peruano antes e depois da partida. Muito se comenta sobre um possível pagamento de suborno aos jogadores do Peru. Outra teoria diz que o país foi recompensado com generosas toneladas de trigo argentino. Nas quatro linhas, a zaga peruana jogou de maneira dispersa e o goleiro Quiroga (argentino naturalizado peruano) engoliu estranhos frangos.

A Argentina venceria ainda a Copa de 86, e seu futebol é reconhecido como um dos melhores do mundo. Mas mesmo profissionais e autoridades da área veem com reservas o episódio.

Jorge Rafael Videla morreu na prisão onde cumpria pena perpétua por crimes contra a Humanidade. O secretário de Esportes da Argentina, Claudio Morresi, comentou o falecimento do ex-ditador, afirmando que ele causou uma mancha causada na História do país.

– O esporte argentino sofreu de diversas formas no tempo do ditador Videla. Há imagens, como vê-lo entregando a taça na Copa de 78, que entristecem a História. Entre os milhares que desepareceram e que foram assassinados, estão 40 atletas federados – disse Morresi.

 

Fonte – G1

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