A CNV (Comissão Nacional da Verdade) discute nesta quarta-feira (29), em Porto Alegre, um cronograma para a exumação dos restos mortais do presidente João Goulart (1961-1964), o Jango, morto em 1976.
A exumação foi um pedido da família de Jango, que suspeita de morte por envenenamento.
João Goulart, em seu exílio no Uruguai, é fotografado pela mulher, Maria TherezaA reunião começou por volta das 15h, na sede da Procuradoria Regional da República no Rio Grande do Sul.
Além da ministra Maria do Rosário (Secretaria dos Direitos Humanos) e da coordenadora da CNV, Rosa Maria Cardoso da Cunha, participam do encontro os filhos do ex-presidente, João Vicente Goulart e Denize Goulart, o neto Christopher Goulart, e peritos criminais brasileiros, argentinos e uruguaios.
Entidades como a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e o Movimento de Justiça e Direitos Humanos também acompanham a reunião, realizada a portas fechadas e com previsão de término às 18h.
O pedido para exumação dos restos mortais de Jango foi feito pela família do presidente, que entregou petição à CNV durante audiência em Porto Alegre no último dia 18 de março.
Deposto pelo golpe militar de 1964, Jango foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio.
Ele morreu aos 57 anos no município argentino de Mercedes, província de Corrientes, em 6 de dezembro de 1976. O corpo está sepultado em São Borja, fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina.
Oficialmente, Jango foi vítima de um ataque cardíaco. Não foi feita necropsia.
Existe a suspeita, porém, de que Jango tenha sido morto por agentes da Operação Condor –acordo entre governos militares da América Latina, nas décadas de 70 e 80, para perseguir e prender militantes de esquerda.
A suspeita, também levantada pela família, ganhou força nos últimos anos com declarações do ex-agente secreto uruguaio Mario Neira Barreiro, que afirmou que a morte foi ordenada pelo delegado Sérgio Fleury, do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), um dos nomes mais associados à tortura à época, a mando da cúpula do regime.
Segundo Barreiro, Jango era monitorado por agentes da Operação Condor, que teriam inserido um comprimido entre os remédios que Jango tomava para problemas cardíacos.
A família de João Goulart quer que peritos e observadores internacionais acompanhem o processo. A exumação é um dos aspectos de uma série de investigações da CNV sobre a morte do ex-presidente.
Fonte – Folha de S.Paulo