Entre os dias 14 e 16 de junho ocorrerá, em Ibiúna/SP, o 11º Congresso da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), evento que terá como tônica o resgate da luta juvenil contra a opressão do regime militar. Na oportunidade, a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça promoverá ato de concessão de anistia aos estudantes presos pela ditadura militar em 1968 na cidade de Ibiúna, durante o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Em entrevista ao Vermelho, Alexandre Cherno da Silva (foto ao lado) informou que são esperados mais de 1.500 estudantes, que representarão mais de 80% das universidades do estado de São Paulo. Ele frisa que além dos movimentos estudantil, o Congresso da UEE-SP também está mobilizando lideranças dos movimentos sociais (Movimento de Mulheres, Negro, Direito Humanos e da luta pela democratização da Mídia), que já confirmaram presença nos debates que serão realizados.
Segundo ele, o objetivo dos atos, que lembram 1968, é reescrever a história para garantir nosso espaço no futuro. Através do resgate da memória, a juventude irá carimbar o seu futuro na história política do país.
“Esse encontro da UEE-SP possibilitará um encontro de gerações. Apresentar o que a juventude de 1968 tem em comum com a juventude de hoje, e o que essa geração de agora tem como estratégia para avançarmos na construção de um Brasil mais justo e soberano”, pontuou o dirigente estudantil.
Investida Militar no 30º Congresso da UNE, em outubro de 1968, no sítio Muduru, em Ibiúna (a 69 km a oeste de São Paulo).Ele salienta que rememorar 1968 é rememorar o movimento que nos deu a identidade combativa, de ocupar as ruas e de renovar nosso espírito sempre numa perspectiva mudancista. Então todo esse espírito de 1968, em 2013, ele se renova em suas pautas, mas ele se revigora no sentido da resistência e da vontade das transformações.
Sobre a luta pela revisão Lei da Anistia, o dirigente estudantil destacou que a lei de Anistia de 1979 foi imposta para a sociedade. Ele acrescenta que a luta pela revisão da Lei da Anistia é uma luta de todos os estudantes do Brasil e que a UEE-SP, bem como as demais entidades do movimento estudantil estão se organizando atos para reforçar essa luta.
“O Congresso da UEE-SP irá, também, convocar todos os estudantes a organizarem os atos que inaugurarão as manifestações pelos 50 anos do Golpe Militar, que serão completados no dia 1º de Abril de 2014. Ao realizar essa homenagem aos mais de 700 estudantes presos em 1968, iniciamos esse processo. Mas, até abril de 2014 faremos muito mais”, salientou Cherno.
O dirigente estudantil informou também da audiência vários dos estudantes presos em Ibiúna, como o ator José de Abreu, os ex-ministros José Dirceu e José Genoino, entre outros.
Comissão de Anistia
Em entrevista ao Vermelho, Paulo Abrão (foto ao lado), secretário Nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, informou que “a Comissão promoverá ‘Ato Público de Reparação Coletiva’ outorgando para todos àqueles participantes do Congresso de Ibiúna que tiveram pedidos de anistia já reconhecidos pelo Estado brasileiro o seu certificado oficial de anistiado político e, para os participantes não anistiados, um certificado de homenagem pela luta e resistência contra o regime militar”.
Além disso, o secretário explicou que durante o ato, a 71ª Caravana da Anistia apreciará, in loco, dois pedidos de reparação de estudantes perseguidos políticos pela Ditadura Militar. “Os atos de reconhecimento representão o perdão do Estado brasileiro a todos os estudantes presos em Ibiúna em 1968. É mais um capítulo de nossa história que será reescrito”, enfatizou Paulo Abrão.
Homenageados
Além dos anistiados políticos, a UEE-SP homenageará na audiência alguns dos nomes da geração de 1968. Tais como Luis Eduardo Curti, ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco; Augusto César Petta, ex-presidente do Centro Acadêmico do Curso de Filosofia da Puccamp; Antonio Guilherme Ribas, ex-presidente da UPES (União Paulista dos Estudantes Secundaristas) morto pelos militares em 1973, na guerrilha do Araguaia; e Neusa Ferreira de Sousa, proprietária do sítio Murundu, local que sediou o 30º Congresso da UNE.
Ibiúna, 1968
Em 1968, quatro anos após o golpe do Regime Militar, a União Nacional dos Estudantes (UNE) reuniu cerca de mil estudantes para a realização clandestina do seu 30º Congresso. Durante o 30º Congresso da UNE, 720 jovens foram presos, entre eles as principais lideranças do movimento estudantil: Luís Travassos (presidente eleito), Vladimir Palmeira, José Dirceu, Franklin Martins e Jean Marc van der Weid.
Ex-líderes estudantis que foram presos no 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), em 1968, durante a ditadura militar.
Ex-líderes estudantis que foram presos no 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), em 1968, durante a ditadura militar.De acordo com relatos dos estudantes presos, um dos objetivos da prisão era desmontar a organização da UNE que estava organizada contra a repressão inaugurada em 1694.
Na ocasião, o movimento estudantil havia sido colocado na ilegalidade pelos militares, e encontros como o congresso eram proibidos. Ao descobrirem a movimentação na cidade do interior paulista, a Força Pública invadiu o evento e prendeu todos os participantes, que foram levados ao Dops e ao presídio Tiradentes – alguns morreram anos depois torturados pelos agentes do regime.
A Batalha da Maria Antônia
Durante o congresso da UEE-SP também será feito o lançamento nacional do documentário “A Batalha da Maria Antônia”, dirigido por Renato Tapajós e que retrata o confronto de estudantes com agentes do regime militar. O episódio, ocorrido na Rua Maria Antônia, que abrigava a Faculdade de Filosofia da USP e o Mackenzie, terminou com a morte do estudante José Guimarães e com o incêndio do prédio da Faculdade de Filosofia. O lançamento ocorre na noite de sexta (14) no Espaço Cultural de Ibiúna.
Fonte – Vermelho