Verdade não tem donos

Conhecido como cordial, o brasileiro tem, sim, alguma tendência a pôr ­pedra sobre determinados assuntos. A Comissão Nacional da Verdade e a Lei de Anistia são dois deles. Instalada há um ano, a comissão mostrou ousadia na apresentação de relatório parcial, pela primeira vez com indicação de responsabilidades e citação a comandos militares. Ainda sofre pressão de quem espera avanços na conciliação do país com sua história. Mas também de quem acha que tudo deve ficar como está. Essa ala afirma que a Lei de Anistia, aprovada em 1979, em um país ainda presidido por general, promoveu a pacificação.

Mas crimes contra a humanidade não prescrevem, segundo o direito internacional. E opositores da ditadura foram processados – quem sobreviveu à prisão, claro –, com base nos tribunais e leis do regime autoritário. Ainda hoje, defensores de 1964 afirmam que o golpe se antepôs ao “risco” de uma ditadura comunista. Uma balela. A pretexto de defender a democracia, militares e civis a interromperam por 21 anos. Muitas vezes, como escreveu em 1994 dom Paulo Evaristo Arns, tocando no corpo de suas vítimas para machucar, destruí-las psicológica e humanamente, matar. A Comissão da Verdade não surgiu para “vingar” ninguém. Mas para apresentar a versão da história por décadas sufocada. É sobre esse desafio a reportagem de capa.

Esta edição fala ainda sobre outro desafio do futuro, agora na área econômica: as medidas adotadas pelo governo, especialmente as desonerações tributárias – que reduzem custos da produção e encorajam consumidores – e seus possíveis efeitos na retomada do crescimento. Mesmo rateando, com tropeços, o país se diferencia do mundo em crise por recusar o receituário da “austeridade” e continua criando postos de trabalho com carteira assinada e ostentando as menores taxas de desemprego de sua série histórica. Talvez se possa inferir que nem só o PIB mede a eficiência econômica de um país.

 

 

Fonte – Rede Brasil Atual

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