Durante os últimos protestos no Rio de Janeiro, se espalham as denúncias de policiais infiltrados, plantando provas para incriminar estudantes e promovendo o terror em carros sem identificação. A situação lembra episódios da Ditadura Militar onde agentes infiltrados eram usados para causar tumulto e colher informações dos estudantes que se organizavam. A relação pode parecer forçada para alguns, mas ao que indica o livro-reportagem “Os Infiltrados”, Editora AGE, Porto Alegre, 2011, talvez não se trate de mera coincidência.
De acordo com relatos extraídos durante a produção do livro, o secretário de segurança do Governo Sérgio Cabral, José Mariano Beltrame, teria atuado como agente infiltrado no movimento estudantil em Porto Alegre.
“Gaúcho de Santa Maria, Beltrame, jovem agente em início de carreira no começo dos anos 80, acompanhou Telmo (Telmo Fontoura, o chinês, agente infiltrado no movimento sindical e estudantil gaúcho nos anos 80.) numa assembleia estudantil em que a presença dos policiais foi denunciada por participantes não alinhados com a direção da Umespa (União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre). Quando alguém anunciou ao microfone que havia policiais monitorando o encontro, vários jovens deixaram às pressas a reunião. Eram agentes: – O pessoal do DOI-Codi e da Dops da Polícia Civil também estava lá. Quando anunciaram que tinham policiais lá, todos correram, inclusive eu e o Beltrame (José Mariano Beltrame) – descreve Telmo, sem conter o sorriso.” relata o livro de Carlos Wagner, Carlos Etchichury e Humberto Trezzi.
Em relato, a esposa de Telmo Fontoura, Magda Ribeiro Tavares, também confirma a presença de Beltrame como agente infiltrado. Magda informa que não desconfiou quando conheceu o marido e o Beltrame pois estavam na porta da escola, ela acreditava que eram estudantes normais, “Ele (Beltrame) era novinho, ele estava entrando. Era o primeiro dia de serviço dele”, informou em relato que pode ser escutado na integra a seguir.Procurado pela produção do Livro em janeiro de 2010, a assessoria do Secretário da Segurança do Rio de Janeiro enviou mensagem no dia 28 daquele mês, negando que o Secretário tenha atuado como agente infiltrado, mas confirmando a presença na reunião citada por Telmo: “Ele (Beltrame) ingressou na Polícia Federal em 1981, como agente. Ele (Beltrame) nunca atuou como agente infiltrado no movimento estudantil. O fato citado ocorreu uma única vez. Houve uma reunião na Umespa na qual ele (Beltrame) acompanhou Telmo, mas não como agente infiltrado.” No entanto a assessoria não informou o que Beltrame, agente da Polícia Federal, fazia numa assembléia de estudantes secundaristas.
Por Chico Motta, da Revista Vírus Planetário