Câmara de São José inicia trabalhos da ‘Comissão da Verdade’

Projeto vai colher dados e depoimentos de perseguidos durante a ditadura. Serão dez audiências públicas com a primeira marcada para 16 de outubro.

A Câmara de Vereadores de São José dos Campos (SP), juntamente com historiadores, iniciou nesta terça-feira (8) os trabalhos da ‘Comissão da Verdade’, projeto que havia sido aprovado em agosto. O grupo vai colher dados e depoimentos de pessoas que foram perseguidas e torturadas na cidade durante a ditadura militar. Serão realizadas dez audiências públicas e a primeira deve ser realizada no próximo dia 16.

As vítimas do regime, instaurado com um golpe em 1964 e durou até 1985, serão ouvidas no plenário da Câmara. Estudantes, sindicalistas da época da ditadura vão revelar uma parte importante da história da cidade. “Percebeu-se que cada vez mais São José foi um grande foco de perseguição. Os estudantes foram vigiados, presos, houve tortura, da mesma forma que muitos sindicalistas na cidade”, assegurou a historiadora Nadia Kojio.

O jornalista Luiz Paulo Costa foi uma das vítimas dos ‘anos de chumbo’, como ficou conhecido o período militar no Brasil. Na época do golpe militar, ele era funcionário da gráfica do antigo CTA de São José dos Campos. O jovem que defendia o socialismo perdeu o emprego e foi levado à força de casa pelos militares.

Jornalista Luiz Paulo Costa, preso durante o regime militar. (Foto: Reprodução/TV Vanguarda)

“Fiquei uma noite no CPUR do CTA, no dia seguinte de manhã fui levado para a base aérea de Santos. Ali eu fiquei 15 dias incomunicável, alojado em um cubículo de eucatex, de dois metros por três metros, onde tinha uma cama de praia e um penico. E diariamente eram interrogatórios de quatro, cinco horas”, relatou.

Ele foi parar nos porões do Navio Raul Soares, em Santos. Uma prisão flutuante para aqueles que eram contra a ditadura. “Começo de maio até julho. O boato incessante lá é de que em um momento esse navio seria rebocado para alto mar e seria afundado com todo mundo lá dentro”, contou o jornalista.

Segundo ele, o pior aconteceu em 1975 quando Costa foi preso novamente em São José dos Campos e dessa vez levado para a capital. “Choques, pancadas, basta dizer que furaram meus tímpanos com ‘telefone’ [pancadas com as duas mãos simultaneamente sobre os ouvidos da vítima], quebraram dentes da minha boca com socos. Eles queriam que eu disesse tudo e eu falava: ‘mas tudo o que?'”, disse.

 

O policial militar aposentado, Pedro Lobo, antes de chegar ao Vale do Paraíba, foi preso e expulso do país. Ele viveu exilado na Alemanha por sete anos, pois tinha medo de voltar. “Se eu voltasse eu seria morto. Todos os que regressaram naquela fase depois do exílio, todos morreram. A ditadura podia nos acusar do que ela quisesse, fazer o que ela quisesse”, afirmou Lobo.

 

Fonte – G1

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