Ex-líder estudantil transformou em livro as lembranças de fatos obscuros ocorridos no Distrito Federal
Durante a ditadura militar, as forças policiais usaram locais não oficiais para interrogatórios e torturas a fim de que seus atos fossem ainda menos passíveis de questionamentos. Em Brasília, existem histórias de que as margens do Lago Paranoá, grande ponto turístico da cidade, serviram a esse propósito. Teriam ameaçado jogar as vítimas da Ponte Costa e Silva com pedras amarradas ao corpo. Áreas de cerrado também teriam sido usadas com o mesmo objetivo, mas a promessa era de fuzilamento. Relatos indicam um prédio da Polícia Militar como um espaço de tortura.
Esse pedaço da história da atuação do regime em Brasília é ainda mais nebulosa do que o restante. De acordo com o professor Cristiano Paixão, coordenador da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da Universidade de Brasília, é possível que o governo tenha se valido de pontos clandestinos, mas ainda não há nada concreto. “É uma característica de outros estados que pode ter se repetido aqui. Combina com a maneira como a repressão se organizou no Brasil. Havia grupos que atuavam no submundo da repressão para evitar qualquer tipo de controle público”, explica. Em Petrópolis (RJ), a Casa da Morte ficou famosa pela quantidade e pela gravidade de torturas realizadas. Era uma residência particular.
O uso de locais privados a serviço da repressão precisa ser avaliada no Distrito Federal. “Existiam núcleos mais ou menos autônomos tanto nas Forças Armadas quanto nas polícias pelo país. Ainda não temos indícios disso em Brasília”, disse Paixão. Para aprofundar as pesquisas no tema, o caminho é fazer o cruzamento dos depoimentos com os documentos do Arquivo Nacional. Além disso, outra possibilidade é aproveitar a parceria firmada com o Ministério da Justiça para acessar os arquivos da Comissão da Anistia da pasta.
Enquanto as pesquisas em documentos prosseguem, um relato forte pode indicar a prática de agressões fora das dependências das forças de segurança e justificar o apelido de “anos de chumbo”. Alduísio Moreira de Souza se engajou na militância contra a ditadura muito cedo. Depois de preso e torturado, mudou-se de Brasília e transformou em texto as lembranças que não consegue expressar em palavras faladas.
Fonte – Correio Braziliense