O presidente da comissão, Wadih Damous, disse hoje (30) que pedirá ajuda à Comissão Nacional da Verdade, para conseguir informações por meio do governo argentino com o Judiciário daquele país. “Levantaremos os dados sobre esse caso e com a comissão nacional veremos a melhor forma jurídica de ingressar no processo”, informou.
Em março, a Justiça argentina instaurou ação para investigar a Operação Condor e o desaparecimento de 106 latino-americanos. Entre eles, está o caso do jornalista Norberto Habegger, que integrava o grupo de guerrilheiros conhecidos por Montoneros e de mais dois argentinos que desapareceram no Brasil.
Hoje, durante depoimento do filho do jornalista, o cineasta Andrés Habegger, a comissão estadual entregou à cônsul da Argentina no país, Alana Lomonaco, documento da ditadura brasileira alertando sobre a atuação dos montoneros e para o aparecimento de corpos de ativistas mortos pela repressão.
Segundo o filho do desaparecido argentino, não se sabe ao certo o destino de seu pai. A hipótese mais provável é que, depois de capturado no Rio por militares brasileiros, o jornalista teria sido levado pelos agentes da ditadura argentina para um campo de concentração naquele país, depois de torturá-lo.
“Esse é um processo doloroso, porém, saneador. É muito melhor saber o que aconteceu, saber tudo, e conviver em paz com sua própria história”, disse o cineasta que viu o pai pela última vez aos 9 anos de idade. “Convivi com essa ausência, com um pai desparecido toda uma vida. São marcas que não saem”.
Documentos recentes elaborados pelo governo brasileiro e dados da Anistia Internacional, que entrevistou sobreviventes de campo de concentração na Argentina, confirmam a passagem de Norberto pelo Brasil e dão nomes de três militares argentinos que o capturaram no aeroporto do Rio de Janeiro.
Com base neles, Damous reforçou que buscará identificar os brasileiros envolvidos na Operação Condor. “Não foram agentes argentinos que chegaram aqui, sequestraram e foram embora. Houve a colaboração da ditadura brasileira”, acrescentou.
Diante das provas brasileiras, a família do desaparecido, que é testemunha no processo sobre a operação, espera provar a ligação entre os sistemas de repressão do Brasil e da Argentina e exigir que os envolvidos sejam punidos. Na Argentina, ao contrário do Brasil, os militares foram penalizados por seus crimes.
Fonte – Agência Brasil