A Comissão Nacional da Verdade (CNV) e a Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg) ouviram neste fim de semana, em Belo Horizonte, relatos de pessoas ligadas às igrejas que sofreram ou presenciaram graves violações de direitos humanos durante o regime militar. Nas reuniões que aconteceram na noite de sexta-feira e ontem na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), integrantes da comissão discutiram o papel das igrejas durante a ditadura e colheram depoimentos de grupos ligados aos movimentos religiosos que apoiaram a resistência contra o regime.
O papel das igrejas entre 1964 e 1985 está sendo acompanhado por um grupo de trabalho da CNV, que examina a postura política de instituições religiosas e seus integrantes. O objetivo é esclarecer tanto o apoio dado aos grupos de resistência à ditadura quanto a contribuição à repressão, com denúncias de pessoas ligadas ao regime que estariam infiltradas nas instituições. Segundo relato do frade Oswaldo Augusto, da Ordem dos Dominicanos, seu convento era constantemente vigiado e a ação dos militares o obrigou a deixar o país. “Nosso convento foi invadido, nossos frades foram presos e torturados”, contou.
Para ele, o golpe de 1964 foi resultado de um longo processo que se desenrolou no país desde os anos 1950, ligado diretamente à doutrina de segurança nacional. “O aparelho de repressão já estava criado. Quando Vargas se matou, houve uma tentativa de golpe. Em 1955, na posse de JK, nova tentativa de golpe. Em 1961, com a renúncia de Jango, novamente a direita tentou dar um golpe. O processo de construção já tinha 10 anos, em 1964 foi apenas quando conseguiram, de fato, realizar o atentado”, avaliou.
O presidente da comissão da verdade da OAB-MG, Marcio Santiago, destacou que os atos de repressão no período não tiveram como único alvo as instituições religiosas e que muitas das situações que envolveram pessoas ligadas às igrejas continuam esquecidas na história do país. “As perseguições aconteceram contra católicos e protestantes em várias esferas. Nessas reuniões, fica claro como os relatos ainda causam dor para as pessoas, que até hoje não tinham contado o que passaram durante a ditadura”, disse Santiago.
Fonte – Estado de Minas