O governo federal entrou no esforço de criação do Memorial Ico Lisboa, onde funcionava um centro clandestino de tortura durante o regime militar. O anúncio foi feito pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário (PT), na manhã de ontem, em visita ao casarão da rua Santo Antônio, 600, conhecido como Dopinha. O prefeito José Fortunati (PDT) e o governador do Estado, Tarso Genro (PT), já haviam declarado o apoio formal em ato realizado pelo Comitê Carlos de Ré, da Verdade e da Justiça (CCR) em dezembro do ano passado.
Ministra Maria do Rosário ficou visivelmente incomodada com a atmosfera do local
Maria do Rosário explicou que o Estado e a prefeitura estão comprometidos com a compra e desapropriação do imóvel. O trabalho do governo federal estaria em uma fase posterior a esse processo. “O governo federal deve participar na melhoria do espaço físico, é a mesma contribuição que estamos fazendo na Casa da Morte, em Petrópolis. A busca de recursos é algo que nós não podemos assegurar números, mas estamos dispostos a trabalhar orçamentariamente e apoiar essa iniciativa pela luta democrática do Brasil”, acrescentou a ministra.
Ao entrar no imóvel, Maria do Rosário ficou visivelmente abalada. No segundo andar do casarão, ela relatou sentir uma atmosfera terrível dentro da casa. Ao passar pela sala de tortura, além de comentar o ar pesado, também sugeriu a membros do CCR, que tomam a frente da ressignificação, que aquele local fosse totalmente preservado da maneira que está. “Nós pretendemos colocar uma placa indicando o que aconteceu comprovadamente nesta sala, além de fotos de torturados”, contou Christine Rondon, coordenadora do CCR.
“É muito importante a revelação desses espaços e a construção de sítios de memória, já que isso marca o que a ditadura fez: clandestinamente produzir maustratos, torturas e a destruição humana em nome de um projeto político e de poder que tinha interesse econômico, político, militar e que contou com civis, lamentavelmente, até hoje são história não conhecidas pela população”, disse Maria do Rosário sobre o casarão.
O proprietário do imóvel, que preferiu ter sua identidade preservada, acompanhou a visita da ministra e se mostrou satisfeito com o destino que será dado à casa que foi de seus avós. “Um memorial é sempre importante para contar a história às novas gerações para que se previnam outros enganos como a ditadura militar. Nós devemos aproveitar o conceito negativo atribuído à casa e transformá-lo em algo positivo, ou seja, para celebrar a democracia”, afirmou.
Fonte – Jornal do Comércio