A verdade com 40 anos de atraso reforça crime político

Tese de crime político contra Fernando Santa Cruz é reforçada por documento entregue pela Aeronáutica

Elzira recebe da Comissão da Verdade documentação referente ao seu filho Fernando foto: Nando Chiappetta/DP/ D. A PRESS

Quarenta anos após o desaparecimento de Fernando Santa Cruz, a mãe dele, Elzita Santa Cruz , obteve documentos que reforçam a tese de crime político. Na tarde de ontem, ela recebeu das mãos do presidente da Comissão da Verdade Dom Helder Camara, Fernando Coelho, a resposta a um pedido de busca difundido pelo Ministério da Aeronáutica. O arquivo, que era secreto, fala do “sequestro” ou prisão do militante da Ação Popular Marxista-leninista (APML) no dia 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro. Santa Cruz, porém, foi dado como desaparecido pela família no dia 23.

“No campo das suposições podemos cogitar que o dia 22 foi o início da operação para prender Fernando”, comentou o relator do caso, Manoel Moraes. De acordo ele, essa prova documental é importante para reabrir o caso junto à Organização Interamericana de Direitos Humanos (OEA). O caso havia sido encerrado com artigos cobrando resposta do Estado à família de Santa Cruz, algo que nunca aconteceu. “Vamos pleitear a reabertura do caso. Esse crime (sequestro) é imprescritível”, disse o irmão do desaparecido político, Marcelo Santa Cruz.

Ainda no relatório apresentado pela Comissão, consta um informe no qual a palavra “neutralizar” aparece em referência ao ex-presidente da APNL, Jair Ferreira de Sá. “O alvo era Jair. Neutralizar quer dizer anular, matar”, ressaltou o relator. A hipótese apresentada por ele é de que as forças repressoras teriam mapeado Fernando Santa Cruz e outro desaparecido político, Eduardo Collier, que já estava na clandestinidade, para se chegar até Jair Ferreira.

O sequestro teria ocorrido no dia em que Santa Cruz havia marcado um encontro secreto com Collier. “Não sabemos se esse encontro chegou a ocorrer ou se Collier foi pego antes ou depois dele. O que podemos afirmar é que nenhum dos dois abriu, pois Jair não foi preso”, disse Moraes. Ao rememorar a história, Marcelo Santa Cruz lembrou que, após o desaparecimento do irmão, as prisões de integrantes da APNL cessaram.

 

Marcelo disponibilizou ontem à comissão três cadernos com mais de quinhentas páginas cada com documentos do seu arquivo pessoal. Nele constam matérias de jornais e revistas sobre o desaparecimento do irmão, bem como cartas, atas de reuniões, pedidos de informação, respostas oficiais e relatos, a exemplo do depoimento de Joaquim Francisco na diretoria da Faculdade de Direito do Recife acusando Fernando de ser um dos “elementos” mais atuantes do grupo de esquerda da Universidade Federal de Pernambuco.

 

Fonte – Diário de Pernambuco

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