“O trabalho no DOI era degradante. Não se ajustava a qualquer pessoa”, afirmou, referindo-se aos policiais que atuavam diretamente nos interrogatórios, a chamada turma da “análise de informações”.
O policial aposentado também fez referências ao apoio dado por grandes grupos financeiros e industriais à repressão. Entre outros, citou o caso, já bastante conhecido, do Grupo Ultragaz, que fornecia refeições para os agentes do DOI-Codi.
Lopes foi chamado para depor porque foi um dos agentes do DOI-Codi que assinaram o auto de exibição e apreensão de armas e documentos que teriam sido encontrados com Arnaldo Cardoso Rocha, militante da Ação Libertadora Nacional morto em 1973. Segundo a versão oficial, ele teria sido morto durante um confronto com a polícia. Mas, de acordo com documentos que estão em posse da Comissão da Verdade, ele foi torturado e executado
O auto de apreensão foi redigido quatro dias após o suposto tiroteio e as armas não foram apresentadas ao escrivão. Nesta terça, ele disse que essa prática não era incomum. Também afirmou que não podia garantir que a assinatura era mesmo dele.
Diante da insistência de Iara Xavier Pereira, companheira de Arnaldo, para que o policial desse alguma informação, qualquer coisa que ajudasse a esclarecer as circunstância da morte, ele respondeu: “Lamento que eu não tenha convicção para falar mais.”
Iara, que estava na mesa e participou diretamente do interrogatório, disse ao Estado que considerou o depoimento do policial extremamente cauteloso e, alguns pontos, inverossímil. “Ele disse que nunca ouviu os gritos das pessoas torturadas no DOI-Codi. Isso é impossível. Todas as pessoas que passaram por lá disseram que ouviam.”
Lopes disse que aceitou o chamado para depor porque deseja contribuir para o esclarecimento dos fatos ocorridos naquele período. Se ele não fosse, poderia ser convocado pela Comissão Nacional.
Fonte – Agência Estado