História, historiador e a Comissão da Verdade… 50 anos que ainda têm muito a ser revelado ou não!

Sou filho dos anos 70, mais precisamente nascido em 1977 (ano que o movimento Punk estourava no mundo),  momento que o Brasil estava caminhando por um processo “lento, gradual e seguro” para uma volta a democracia, que desde o ano de 1964 havia sofrido uma dura apunhalada por setores civis e militares que determinaram um fim ao dito período democrático que havia sido restabelecido em 1946, após uma ditadura Varguista de 15 anos…

Só passei a ter essa consciência história sobre esses fatos que citei anteriormente durante minha  adolescência – vivida nos anos 90 – e que  somado a uma rebeldia (típica da juventude) e a vontade de conhecer mais sobre a História, consegui no ano de 1998 entrar na universidade para fazer o curso de História.

Pois bem, fiz esse pequeno relado de experiência de vida para poder chegar a um ponto chave nesse pequeno artigo: as memórias do ano de 1964 no Brasil e o historiador.

Como já dito, não vivi os anos 60, mas graças a memória (ou seriam as memórias?) e estudos feitos com documentos – sejam por fontes militares ou civis –  nos revelaram que os 21 anos que se seguiram na história do Brasil seriam de nefastos acontecimentos nos quais até hoje encontram sem respostas ou foram dadas respostas insatisfatórias. E partindo dessa análise, eis que vejo a necessidade de perguntar se desde o ano de 2012, quando foi instituída  através da Lei 12528/2011 a Comissão Nacional da Verdade (CNV), qual o papel dos historiadores nessa comissão?  Pelo jeito o oficio do historiador não tem vez junto a essa comissão!

Ao analisar as formações dos membros da CNV os senhores: Gilson Dipp, José Carlos Filho, José Paulo Cavalcanti Filho, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Dallari e as senhoras Maria Rita Khrel e Rosa Maria Cardoso da Cunha é indubitável que todos são detentores de um exímio currículo em diversas áreas do conhecimento. Mas não são historiadores! Será que o ofício do historiador não caberia nessa comissão? Será que esse ofício é tão vil ao ponto de não poder ajudar nas pesquisas de investigação desse passado tão importante na nossa História?

Vejo que lembrando hoje os 50 anos de uma ruptura institucional que teve o apoio de parte da sociedade civil brasileira e também  o apoio incondicional das Forças Armadas, os debates sobre esse tema ainda são atualíssimos, sejam em reportagens, em documentários, em filmes, em minisséries ou em qualquer outra forma de produções a todo momento é recorrente se chamar um historiador para ajudar a “contar a história” desse período. Mas na CNV não foi necessário. Deplorável!

Enquanto muitos se preocupam em manifestar contrários ou favoráveis aos militares no poder (a democracia dá esse direito de manifestação pró ou contra), sinto a necessidade de levantar a bandeira de que, a população tem que conhecer sua própria história, de ter acesso a documentos e sobretudo a profissionais que dedicam (ou dedicaram) boa parte de suas vidas na busca de documentos ou na análise de documentos para que nós – a população brasileira – nesses quase 514 anos de História possamos ter um poder mais de informação e enxergar os fatos históricos que foram decisivos para a construção de uma História de constantes lutas, de resistência e acima de tudo de não ficar cabisbaixo junto as imposições de grupos dominantes. Cito aqui uma frase do escritor espanhol Miguel de Cervantes de Saavedra (1547 – 1616), que ilustra bem  essas palavras aqui escritas nesse breve artigo: “O poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram mas como deveriam ser; e o historiador há de escrevê-las não como deveriam ser e sim como foram, sem acrescentar ou tirar nada à verdade.”

 

 

Fonte – DIÁRIO DA MANHÃ

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