Cerca de mil pessoas estão reunidas no pátio do 36º Distrito Policial, antiga sede do DOI-Codi na capital e principal centro de tortura e repressão da ditadura militar
Os manifestantes fizeram ainda a leitura de uma lista com nomes de desaparecidos políticos. A cada nome lido, os demais respondiam dizendo “presente”.O pátio do 36º Distrito Policial (DP) de São Paulo, na rua Tutoia, no Paraíso, está tomado por cerca de mil manifestantes na manhã desta segunda-feira, 31, que participam do ato público “Ditadura Nunca Mais”, organizado pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva. O local é o palco de uma das manifestações realizadas na capital para lembrar os 50 anos do golpe que depôs o presidente João Goulart, em 1964.
O DP abrigou nos anos da ditadura a sede do DOI-Codi de São Paulo, um dos mais importantes centros de repressão política e de tortura do País. Segundo dados da comissão, cerca de 8 mil pessoas foram torturadas no local entre 1969 e 1978. Desse total, cerca de 50 presos políticos foram assassinados, entre eles o jornalista Vladimir Herzog .
No início do ato, os organizadores leram um manifesto no qual pedem a revisão da Lei da Anistia, de 1979. “Só assim romperemos a dura herança deixada pela ditadura e que ainda acoberta os violadores de direitos humanos nos dias atuais”, diz o texto. A lei perdoou todos os que cometeram crimes políticos durante o regime militar.
Os participantes também entoaram o hino da Internacional Socialista em homenagem aos militantes comunistas mortos no local. Cantar o hino, durante a ditadura, era considerada uma afronta ao regime militar. Segundo Ivan Seixas, militante do grupo armado Movimento Revolucionário Tiradentes e preso aos 16 anos, os presos no DOI-Codi costumava assobiar a melodia quando algum companheiro era retirado da cela para ser torturado. “Apanhei muito por assobiar a Internacional. Nós cantamos aqui hoje para mostrar que conquistamos a humanidade e um espaço que já foi de completa desumanidade.”
Ato organizado pela Comissão Estadual da Verdade, na antiga sede do DOI-Codi em São Paulo, lembra 50 anos do golpe militar
Entre os presentes no evento estava o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), provável candidato ao governo de São Paulo, acompanhado do pai, Anivaldo Padilha – preso clandestinamente e torturado no DOI-Codi, em 1970.
Anivaldo Padilha disse que essa é a primeira vez, desde 1970, que ele retorna ao local. “Me sinto muito emocionado. As cenas de tortura estão voltando, mas ao mesmo tempo sinto que é uma vitória. É uma espécie de retomada deste local”, afirmou. O pai do ex-ministro foi militante da Ação Popular, o mesmo movimento ao qual pertencia o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB).
Memorial. Desde de setembro do ano passado, a Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog reivindica a desocupação do DP para transformá-lo no Memorial dos Desaparecidos. Em janeiro, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) formalizou o tombamento do prédio.
Com o ato desta segunda, os manifestantes tentam reforçar o pedido pelo andamento do projeto. Em janeiro, a Secretaria de Cultura do Estado informou que o caso está em análise.
Presente no evento, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), manifestou-se favoravelmente à criação do memorial. “Tudo que puder ser feito para manter a memória dos tempos sombrios da ditadura é útil para a sociedade, é educativa. A memória deve ser preservada para que os erros não se repitam”, afirmou Haddad.
Ex-ministro Alexandre Padilha participou do ato acompanhado do seu pai Anivaldo Padilha, preso e torturado no DOI-Codi em 1970
Prefeito de SP, Fernando Haddad, e o senador Eduardo Suplicy, ambos do PT, estiveram presentes no ato na antiga sede do DOI-Codi em São Paulo
Fonte – Estadão