Madre Maurina Borges da Silveira foi presa no dia 25 de outubro de 1969. Tinha 43 anos e dirigia o Orfanato Lar Santana, na rua Conselheiro Dantas 984, em Ribeirão Preto. Cuidava de 220 crianças. Ela foi acusada de ceder uma sala, no porão do prédio, para reuniões de estudantes pertencentes ao grupo guerrilheiro FALN – Forças Armadas de Libertação Nacional.
Presa com vários militantes da FALN pela Operação Banderiante (Oban), foi torturada durante cinco meses. O episódio resultou na excomuhão dos delegados Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano, em 12 de novembro de 1969. Lamano foi apontado num ranking da revista “Veja” como o 12º maior torturador da época da ditadura militar.
Jacob Gorender, historiador marxista brasileiro, relata em seu livro “Combate nas Trevas” que irmã Maurina teria sido estuprada na prisão, fato desmentido por ela. Madre Maurina admite que foi vítima de violência moral e obrigada a assinar confissão admitindo que era amante de um militante.
Em 1970, foi trocada pelo cônsul japonês Nobuo Okuchil, sequestrado pelo grupo Vanguarda Popular Revolucionário (VPR), em 11 de março. Três dias depois, entrou no avião que a levaria ao México, onde ficaria 14 anos. Regressou ao Brasil em 1973.
“Veja se você não vai esquecer do seu Deus! Agora vai apanhar juntamente com o rapaz seu protegido”. A frase, dita pelo delegado Miguel Lamano, foi relatada por madre Maurina, da Ordem Terceira de São Francisco, em carta escrita na Penitenciária de Tremembé, encaminhada ao ministro da Justiça, Alfredo Buzaid.
Em Ribeirão, o ex-delegado Seccional Renato Ribeiro Soares admitiu, em 2008, que madre Maurina foi alvo de tortura violenta. Mas negou tê-la torturado. Foi readmitido às lides católicas em 9 de agosto de 1975.
Livro novo sobre a heroína
Madre Maurina Silveira Borges, falecida em 2011, tinha nove irmãos. Entre eles, dois padres e duas freiras, todos vivos.
O frei Manoel Borges da Silveira, 83 anos, dominicano radicado em Uberaba (MG), resolveu escrever um livro sobre a irmã baseado nas visitas que fez a ela, especialmente no México, onde viveu exilada durante 14 anos.
Aos depoimentos da irmã, frei Manoel juntou artigos publicados na imprensa, ao longo das décadas, como os escritos por Antonio Callado e César Augusto Vanucci.
O livro, ainda sem título e número de páginas indefinido, será bancado pela Associação Brasileira de Anistiados Políticos, entidade presidida pelo jornalista Saulo Gomes. Saulo foi também o primeiro jornalista a entrevistar o líder espírita Chico Xavier na televisão brasileira, em programa feito para a extinta TV Tupi. Agora, ele apoia frei Manoel para publicar este livro.
“Eu gravei boa parte do depoimento do frei Manoel, na igreja onde vive, a São Domingos, a mais antiga de Uberaba. Ele relatou os encontros que teve com irmã. O livro será impresso em breve”.
Fonte – Jornal A Cidade