Os 42 anos da Guerrilha do Araguaia (1972-2014), movimento desencadeado nas proximidades do rio Araguaia, na região Norte, para combater a ditadura militar, foram lembrados pela Assembleia Legislativa do Estado (AL-BA), em uma sessão especial, na manhã desta sexta-feira (25/4), no plenário da Casa. O ato foi proposto pelo deputado estadual Álvaro Gomes, do PCdoB, partido que organizou a luta armada no período.
A sessão contou com a presença de Micheas Gomes de Almeida, militante comunista paraense mais conhecido como Zezinho do Araguaia, um dos que sobreviveram ao combate. Além dele, também estiveram presentes familiares de mortos e desaparecidos da guerrilha, como Diva Santana (irmã de Dinaelza Santana) e Nelson Piauhy Dourado (sobrinho dos combatentes José e Nelson Lima Piauhy Dourado – este último deu nome ao sobrinho). Zezinho e os familiares receberam, das mãos de Álvaro Gomes, uma placa com o registro da homenagem.
“A Guerrilha do Araguaia foi um dos principais episódios da resistência à ditadura. A Assembleia não poderia deixar de lembrar esses 42 anos. É lembrar para, assim, não deixar que a opressão de novo aconteça”, defendeu o autor da sessão, Álvaro Gomes. O deputado acredita que a maior homenagem deve ser o esforço pela consolidação da democracia, sonhada pelos jovens combatentes. “Ainda temos que avançar muito”.
Mesmo com a idade avançada, Zezinho do Araguaia, que já chegou aos 80 anos, permanece lúcido e subiu à tribuna para agradecerpela homenagem. “Eu não fui um guerrilheiro. Continuo sendo. Nós, camponeses do Araguaia, lutamos pela liberdade e pelo desenvolvimento humano”, afirmou. O ex-combatente aproveitou para destacar, em especial, a atuação das mulheres na guerrilha, a quem se referiu como “heroínas”.
Desaparecidos
Zezinho fez, ainda, um apelo para a criação de uma campanha de identificação dos corpos dos companheiros que ainda estão desaparecidos. O pedido foi reforçado por Diva Santana: “Nós queremos saber, sim, onde e como foram mortos nossos familiares, que são heróis nacionais. A verdade tem que ser dita e somente com ela poderemos virar essa página”.
Embora sejam contabilizados 69 desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, há uma suspeita de que esse número ultrapasse 100, principalmente pela participação de camponeses no movimento. Entre as vítimas, 11 são baianos – três são mulheres.
A sessão contou, também, com a participação de militantes do PCdoB, entre eles, o presidente do Partido na Bahia, o deputado federal Daniel Almeida. O presidente lembrou que a luta armada foi apenas uma das formas de combater o autoritarismo instalado no país.
“Nós, do PCdoB, não tivemos dúvidas de que era preciso lutar de diversas formas. Atuamos no parlamento, no movimento social e, quando necessário, utilizamos a luta armada”, explicou Daniel Almeida. Ele afirmou ainda que, passadas as quatro décadas, a guerrilha continua sendo uma referência para o Partido. “Continuamos inspirados nesses jovens que emprestaram suas vidas para construir esse caminho democrático”.
Protagonismo
Do PCdoB, também compareceu a diretora geral da Bahiafarma, Julieta Palmeira, que criticou o que chamou de “vulto da Guerrilha do Araguaia”, pela ausência do movimento na memória coletiva dos grandes acontecimentos do país. “A guerrilha precisa resgatar o protagonismo que teve. Ela precisa estar ao lado dos grandes movimentos de independência”, defende.
A sessão contou também com as presenças do pesquisador da Guerrilha do Araguaia, Osvaldo Bertolino; do presidente da CTB-Bahia, Aurino Pedreira; do integrante do Comitê Central do PCdoB, Davidson Magalhães, e do integrante do estadual, Carlos Valadares; do presidente estadual da UJS, Vladimir Meira; do coordenador da Comissão Estadual da Verdade, Joviniano Neto; do presidente da Comissão da Verdade da Assembleia, deputado Marcelino Galo (PT); e do vereador Waldir Pires.
O movimento
Mergulhados no interior rural do Brasil na busca por um melhor local para iniciar a luta, os combatentes escolheram a região no sul do Pará, nas divisas entre o Maranhão e Tocantins, que é cortada pelo rio Araguaia. No enfrentamento às Forças Armadas, muitos guerrilheiros sofreram, até 1975, violações consideradas graves, como tortura, estupros, mutilações e assassinatos, além de terem os corpos ocultados.
Além dos nomes já mencionados, também participaram do movimento João Amazonas, o líder máximo do PCdoB, Elza Monnerat, Maurício Grabois e o filho e o genro, André Grabois e Gilberto Olímpio Maria, respectivamente, o médico João Carlos Haas Sobrinho e o gigante negro, engenheiro e campeão de boxe Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”, entre outros.
Fonte – Vermelho