Madre Maurina foi presa por esconder guerrilheiros em Ribeirão Preto (SP). Frei Manoel Borges da Silveira prestou depoimento à Comissão da Verdade.
Madre Maurina no México, durante exílio após ser presa em Ribeirão Preto, SP (Foto: Saulo Gomes/Arquivo Pessoal)Madre Maurina, única religiosa presa e torturada durante o regime militar brasileiro, foi vítima de assédio sexual, segundo o irmão dela, o frei Manoel Borges da Silveira, durante depoimento à Comissão da Verdade, em Ribeirão Preto (SP), na sexta-feira (21). Na declaração, Silveira desmentiu informações de que a freira tenha sido estuprada ou que tenha ficado grávida.
“O que aconteceu foi realmente um assédio sexual. [O torturador] ficou com ela diversas horas, passava mão nas pernas dela, dizia que estava longe da mulher, um galanteador que não obteve resultado nenhum”, relatou o frei durante a comissão. “Ela disse que não houve nenhum estupro, e consequentemente nenhum problema com menino”, disse, negando qualquer história de gravidez ou aborto envolvendo Madre Maurina.
A freira foi acusada de participar do grupo guerrilheiro Forças Armadas de Libertação Nacional (Faln). Ela foi presa em 1969 depois de ceder o porão do orfanato Lar Santana, em Ribeirão, para estudantes pertencentes ao grupo fazerem reuniões.
Frei Manoel prestou depoimento à Comissão da Verdade (Foto: Valdinei Malaguti/ EPTV)Choques nos seios
Segundo o depoimento de Silveira, madre Maurina contou a uma cunhada detalhes sobre o assédio e a tortura sofrida em uma das salas do prédio onde hoje funciona a Delegacia Seccional. “Rasgaram a blusa e deram choque nos seios”, afirmou. Alguns torturadores ficaram nus durante a tortura. “Disse que teve dó de todos eles”.
Quando foi transferida para o presídio de Tremembé (SP), onde teve contato com outras presas políticas, Madre Maurina ficou bastante conhecida por ajudar as outras mulheres. “Ela não foi tão torturada como as outras. Parece que o fato dela ser irmã a livrou e sempre ajudou muito as outras presas. Atenciosa, dava cobertura a elas”, relatou o irmão.
Madre Maurina ficou exilada durante nove anos no México, contra sua vontade e voltou ao Brasil em 1984, com a anistia. Ela morreu em 2011, aos 84 anos, no convento da comunidade que residia, em Araraquara (SP).
Comissão da Verdade
O frei Manoel Borges da Silveira é a segunda pessoa ouvida pela comissão, instalada em 3 de junho pela subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Ribeirão Preto, a primeira criada no interior de São Paulo. O primeiro depoimento, no dia 13 de junho, foi do ex-presidente da OAB, Said Halah.
Segundo o presidente local da comissão, Feres Sabino, a comissão é importante para registrar os fatos que ocorreram em Ribeirão Preto durante o período militar. “É uma forma de valorizar as conquistas democráticas”, afirmou.
Fonte – G1