O ex-padre Albertino Carneiro, fundador do Movimento de Organização Comunitária (MOC) em Feira de Santana, disse ontem (27) ao Grupo de Trabalho da Comissão Estadual da Verdade – Bahia que “o principal objetivo da ditadura militar era amedrontar” e lembrou que, por causa de sua atuação social, “fui sempre vigiado por pessoas contratadas para isso”.
“Esse amedrontamento”, disse Albertino Carneiro, “é uma doença entre os militares, que só sabem demonstrar autoridade com arrogância e com tortura. Estamos vivendo atualmente uma verdadeira ditadura policial. Ou a gente muda a formação dos policiais ou então não vai saber se está falando com um policial ou com um criminoso”.
Em seu depoimento, o ex-padre Albertino Carneiro disse que nunca esteve preso, foi ouvido pelo Exército duas vezes durante o golpe militar, por ser considerado “amigo da esquerda”, mas sempre foi vigiado, “a ponto de um sujeito alugar um quarto perto de mim para ver quem entrava e saía da Casa Paroquial”.
Ressaltou sua atuação entre os jovens e entre posseiros e disse que nunca aderiu a nenhum partido de esquerda nem à luta armada: “Preferi trilhar pela resistência na atuação junto a grupos sociais”.
A 5ª Audiência Pública do Grupo de Trabalho da Comissão Estadual da Verdade em Feira de Santana, realizada na manhã desta quarta-feira no Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) da Uefs, ouviu ainda mais três pessoas: Ana Maria do Nascimento, filha de Chiquinho Nascimento; Luiz Roberto de Jesus, filho de Raimundo de Jesus, o “Raimundo Alfaiate”, e Fidelmário Barberino. A audiência contou com a presença do coordenador do GT em Feira, Sinval Galeão, e da professora Amabília Almeida, representando a CEV-BA.
Sofrimento
Ana Maria do Nascimento contou que o pai, Chiquinho Nascimento, foi preso em 31 de março de 1964, dia do golpe militar, e ficou 68 dias detido, entre o Quartel dos Aflitos e a Vila Militar nos Dendezeiros. “Um contingente do Exército de Maceió invadiu o sítio dele em Feira e reviraram tudo atrás de armas e munições, não encontrando nada, e quebraram até os discos de Juca Chaves”.
Lembrou ainda do sofrimento da mãe, “que chegou a perder um bebê quando ele foi preso”.
Luiz Roberto de Jesus tinha apenas 7 anos quando o pai, “Raimundo Alfaiate”, foi preso durante a ditadura, mas se lembra que “nossa casa era invadida diariamente pelo Exército, que revistava tudo, e no colégio a gente era chamado de ‘filho de comunista’ pelos colegas”. Raimundo ficou preso durante um mês.
Fonte – Tribuna da Bahia