Com lançamento previsto para o mês que vem, o livro “A Coragem da Inocência” trará detalhes da vida de madre Maurina Borges da Silveira (1924-2011), presa pela ditadura militar (1964-85) acusada de participar da guerrilha em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) nos anos 60.
O frei Manoel Borges da Silveira, irmão da madre Maurina, em depoimento à Comissão da Verdade da OAB
O livro trará depoimentos de pessoas que conviveram com a religiosa em diferentes fases da sua vida, como em seu exílio no México, que começou em 1970.
O autor da obra é um dos irmãos da madre, o frei dominicano Manoel Borges da Silveira, 83, e tem supervisão do jornalista Saulo Gomes.
Maurina foi presa em 1969, depois de ter cedido o porão do orfanato Lar Santana, que dirigia, a estudantes pertencentes às Faln (Forças Armadas de Libertação Nacional).
A religiosa foi torturada em uma das salas da Força Pública, no centro de Ribeirão Preto, onde hoje funciona a Delegacia Seccional.
A obra relata detalhes das torturas, como o uso de fios condutores de energia elétrica ligados aos seios da religiosa, além de assédio sexual. Depois da tortura, a madre foi transferida para uma penitenciária em São Paulo, onde ficou menos de um ano.
Parte do conteúdo já foi contada em junho pelo frei à Comissão da Verdade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ribeirão.
A madre saiu do país, junto com outros presos políticos, trocada pelo cônsul japonês Nobuo Okuthi, sequestrado pela VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
Viveu exilada no México por 14 anos, de 1970 a 1984.
Madre Maurina [a 3a da dir. para esq., de óculos], no MéxicoSegundo o frei, ele narra no livro, de forma objetiva, algumas passagens da vida e das torturas sofridas por Maurina. Para ele, a obra é uma das formas de esclarecer o drama que a irmã viveu.
“Ela sofreu sem nunca ter tido nenhuma partição com a guerrilha”, afirmou o frei, que mora em Uberaba (MG).
Para o jornalista Saulo Gomes, o frei traz no livro um “depoimento apaixonado pelo drama vivido por ela”.
Gomes entrevistou outro irmão da madre, Francisco Plácido da Silveira, para a obra.
“Ele trouxe detalhes sobre como era a vida de Maurina no convento São José de Lyon, onde viveu no México”, afirmou o jornalista.
A obra reúne ainda relatos de pessoas como Áurea Moretti e Mauro Lorenzatto, que faziam parte das Faln.
De acordo com Gomes, o livro será patrocinado pela Abap (Associação Brasileira de Anistiados Políticos), da qual é presidente, e distribuído gratuitamente em entidades ligadas aos direitos humanos.
Fonte – Folha de S.Paulo