Museu lança portal sobre pesquisadores vítimas do regime militar no Brasil

Qualquer pessoa pode contribuir com informações para o site do Mast, que já registra verbetes sobre 471 cientistas brasileiros.

 

Até o momento, 471 cientistas, professores e alunos de pós-graduação receberam verbetes no portal, com informações sobre suas áreas de pesquisa e as violações sofridas durante o regime

 

 

Qualquer pessoa podeoa pode contribuir com informações para o site do Mast, que já registra verbetes sobre 471 cientistas brasileiros.

O Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast/MCTI) lançou o portal Ciência na Ditadura, que, neste aniversário de 51 anos do golpe de 1964, resgata a história de cientistas, pesquisadores e professores universitários perseguidos durante o período em que os militares governaram o País (1964-1985).

“Por meio desse projeto, queremos ter uma mensuração do prejuízo causado pela ditadura à ciência brasileira. Uma geração foi impedida de desenvolver suas atividades e possivelmente a situação da ciência no País hoje poderia ser diferente. Poderíamos estar mais adiantados”, afirma o coordenador de História da Ciência do Mast, Alfredo Tolmasquim, responsável pelo portal, desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict/MCTI).

Segundo ele, não existem dados sistematizados sobre o número de estudantes, professores e funcionários presos durante o regime militar – estima-se entre 800 e mil o número de pesquisadores perseguidos no período. Tolmasquim afirma que centenas de pesquisadores e professores universitários foram submetidos a inquéritos policiais militares, demitidos, aposentados compulsoriamente, exilados, torturados e mortos.

Até o momento, 471 cientistas, professores e alunos de pós-graduação receberam verbetes no portal, com informações sobre suas áreas de pesquisa e as violações sofridas durante o regime.

“Queremos tornar essas informações conhecidas da sociedade. Existe muito material de qualidade – dissertações, teses de mestrado, sobre o tema -, e queremos que a sociedade como um todo tenha conhecimento disso”, explica.

Repertório

Tolmasquim explica que o Ciência na Ditadura pretende realizar um levantamento dos pesquisadores e professores universitários perseguidos ou que tiveram suas carreiras acadêmicas prejudicadas. “Não há restrição de área de conhecimento, desde que a pessoa tenha sofrido algo que afetou a sua trajetória acadêmica durante a ditadura”, diz.

De acordo com ele, o repertório permitirá que a sociedade brasileira e o meio acadêmico conheçam melhor os impactos e os prejuízos causados pelo regime militar na vida dos cientistas e da ciência brasileira.

Ele cita o arquiteto Oscar Niemeyer como um dos professores prejudicados à época em que lecionava na Universidade de Brasília (Unb). “Houve um processo de violência muito grande na Unb, em que mais de uma centena de professores se demitiu; alguns foram para outras faculdades e até para o exterior. O Niemeyer poderia ter seguido uma trajetória de professor universitário em conjunto com a vida de arquiteto”, afirma.

Participação cidadã

Qualquer pessoa pode participar do portal, corrigindo ou complementando informações sobre os cientistas perseguidos durante o regime militar, ou ainda sugerindo nomes que não foram incluídos. Além disso, é possível recomendar fonte documental ou bibliografia que ainda não foi consultada para elaboração do repositório.

“Nossa expectativa é a de que as pessoas contribuam com informações para que possamos construir e aperfeiçoar o repertório”, diz Tolmasquim. “Cada informação recebida será checada para verificar se não ocorreram equívocos”.

O repertório do portal Ciência na Ditadura é parte de uma pesquisa em andamento intitulada “Estudos históricos sobre informação e vigilância no Brasil: de Castelo a Snowden“, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), pelo Edital Universal de 2014.

 

 

Fonte – Tribuna Hoje

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