João Carlos Teixeira Gomes depõe amanhã na Comissão da Verdade

João Carlos Teixeira Gomes esteve na linha de frente de uma guerra travada por Antonio Carlos Magalhães contra o Jornal da Bahia, com a intenção de destruir o veículo

O jornalista João Carlos Teixeira Gomes – o Joca -, ex-redator-chefe do Jornal da Bahia, vai depor na Comissão Estadual da Verdade – Bahia na próxima quinta-feira (21), a partir das 14:30 horas, em audiência pública que será realizada na Associação Bahiana de Imprensa (ABI), na Rua Guedes de Brito, 1, segundo andar, edf. Ranulfo Oliveira, Praça da Sé.

João Carlos Teixeira Gomes esteve na linha de frente de uma guerra travada por Antonio Carlos Magalhães contra o Jornal da Bahia, com a intenção de destruir o veículo. A luta de seis anos, que teve início em 1969, pós-Ato Institucional nº 5, colocou “Joca” no banco dos réus de um tribunal militar.

“MEMÓRIAS DAS TREVAS’

Em janeiro de 2001, João Carlos Teixeira Gomes lançou o livro “Memórias das Trevas – Uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães”, que vendeu 25 mil exemplares em apenas seis dias. Na época do lançamento do livro, revelou, em entrevista à revista “ISTOÉ”, que ACM “foi criado e nutrido pela ditadura, velho perseguidor de desafetos, jornalistas e jornais”.

Na mesma entrevista, descreveu assim “Memórias das Trevas”: “Canalizei para o livro a traumática experiência de quem enfrentou ACM durante seis anos consecutivos, de 1969 a 1975, quando ele,  então prefeito de Salvador e governador da Bahia – biônico em ambos os casos – tentou esmagar o Jornal da Bahia, do qual eu era redator-chefe, e me lançar na cadeia, usando a Lei de Segurança Nacional. Ele queria ser meu carrasco. Não conseguiu. Resisti até o fim e o derrotei”.

Membro da Academia de Letras da Bahia, João Carlos Teixeira Gomes escreveu ainda três livros de poesias, ensaios literários sobre Camões e Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”, e uma biografia do cineasta Glauber Rocha.

MANCHETE CENSURADA

A reprodução da primeira página do Jornal da Bahia, edição de 1º de abril de 1964, que circulou sem a manchete, retirada por imposição do Exército na madrugada do golpe militar, foi anexada ao primeiro relatório que a Comissão Estadual da Verdade – Bahia divulgou em dezembro de 2014.

A manchete censurada era “Rebelião contra o governo” e o texto principal, que foi publicado, dizia: “A crise iniciada com o levante de fuzileiros navais e marinheiros na Guanabara, na semana passada, agravou-se extremamente no decorrer da noite de ontem, estendendo-se a vários pontos do território nacional, sob a forma de insurreição política no Estado de Minas Gerais e de movimentação de tropas dentro daquela unidade da Federação e em outras regiões”.

O Jornal da Bahia foi fundado em 1958, pelo militante comunista João Falcão. Veículo progressista, ligado à esquerda, foi fortemente perseguido por Antônio Carlos Magalhães, que suspendeu toda a publicidade oficial, pressionou empresários para que não anunciassem e usou meios jurídicos para desmoralizar o jornal, que criou o slogan “Não deixe esta chama se apagar”, obtendo o apoio da população para que não sucumbisse às dificuldades financeiras. O Jornal da Bahia circulou até 1994.

Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão Estadual da Verdade –  Bahia tem o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos cometidas por agentes públicos entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985. No momento, a CEV-BA prepara o relatório final para ser divulgado em agosto próximo.

 

 

Fonte – Tribuna da Bahia

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