Soledad Barret Viedma, militante da Vanguarda Popular Revolucionária -VPR- assassinada em 1973, foi anistiada pela Comissão de Anistia nesta sexta-feira, 11 de dezembro. O ato é emblemático porque ela foi vítima da traição de seu companheiro de quem esperava um filho. Cabo Anselmo, o traidor que a levou a morte teve seu pedido de anistia negado por unanimidade por essa mesma comissão.
Soledad Barret Viedma
Soledad foi assassinada junto com cinco companheiros num sítio nas cercanias de Recife, em Pernambuco, onde foram surpreendidos por uma emboscada preparada pelos agentes da repressão graças a delação do companheiro de quem ela esperava um filho. No caso que ficou conhecido como o Massacre de São Bento foram executados: Soledad Barret Viedma, Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, José Manoel da Silva, Pauline Reichstul e Jarbas Pereira Marques, todos militantes da VPR.
O caso comoveu a opinião pública pela brutalidade da chacina e a extensão da traição praticada por um agente que se fazia passar por revolucionario e foi capaz de assassinar a mulher com quem vivia e a criança que gerou. Hoje há livros de vários autores e farta documentação sobre o fato e que reconstitui a vida dos militantes traídos. Vidas intensas, cheias de sonhos, coragem e entrega que inspirou poemas de Mario Benedetti, canções de Daniel Viglietti
A Anistia foi concedida durante a 92 Caravana da Anistia, que transcorreu em Belém do Pará nos dias 11 e 12 de dezembro em que foram analisados 120 processos de anistia relacionados com guerrilha do Araguaia e perseguição a camponeses. O pedido que gerou o processo de anistia para Soledad foi conduzido pela Associação Brasileira de Anistiados Políticos. Para defender a causa esteve presente na reunião da Comissão a vice-presidente da Abap, advogada Clélia Hunke da Silva.
A anistia a Soledad, concedida 42 anos após ter sido duplamente traída e quando deveria completar 70 anos de vida constitui uma merecida homenagem post mortem e foi extendida a sua filha, Ñasaindy Barret de Araújo, a quem o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, pediu desculpas em nome do Estado brasileiro.
Ñasaindy é filha do primeiro casamento de Soledad, com José Maria Ferreira de Araújo, brasileiro militante da VPR de quando ambos estavam asilados em Cuba. Araújo, conhecido como Ariboia, pertenceu ao grupo de marinheiros que resistiram ao golpe militar de 1 de Abril de 1964. Perseguido, preso e torturado se refugiou em Cuba regressou ao Brasil em 1970 como militante da VPR e, seguramente foi assassinado pois está na lista de militantes desaparecidos até hoje.
Soledad era neta do renomado escritor paraguaio Rafael Barrett e antes de chegar ao Brasil passou pela Argentina e pelo Uruguai, onde foi seqüestrada e marcada a navalha aos 17 anos em Montevidéu, por se negar a gritar “Viva Hitler!”. Para escapar da perseguição foi pra Cuba como asilada.
“Esse crime contra Soledad Barrett Viedma é o caso mais eloquente da guerra suja da ditadura no Brasil”, escreveu há alguns anos, para o portal Carta Maior, o jornalista Urianiano Mota, autor do livro Soledad no Recife (Boitempo, 2009).
“Seu corpo ainda está desaparecido e até hoje não foi expedida a sua certidão de óbito. Declarada oficialmente morta e desaparecida por responsabilidade do Estado brasileiro, Soledad agora é também anistiada brasileira por todas as perseguições que sofreu ainda em vida”, escreveu o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. “Sua filha, Ñasaindy Barret de Araújo, recebe formalmente o Pedido de Desculpas do Estado brasileiro.”
A Comissão de Anistia determinou ao cartório a emissão imediata do atestado de óbito por desaparecimento político.