Diário do Centro do Mundo
Um anexo de relatório do Exército sobre a guerrilha do Araguaia revela que foi utilizado napalm no ataque.
O documento “Manobra Araguaia/72 – Apoio Aéreo – Anexo D” é assinado pelo tenente-coronel Flarys Guedes Henriques de Araújo, então chefe da 3ª Seção do BEM/11, em novembro de 1972.
O bombardeio com napalm, uma bomba incendiária composta por uma resina, agente espessante, que misturado a gasolina gelificada se transforma num gel pegajoso e incendiário, foi muito utilizado pelo exército dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, no mesmo ano em que a Força Aérea Brasileira o utilizou no Araguaia: 1972.
Para tentar descobrir esconderijos e para atacar os guerrilheiros dentro da floresta amazônica, a Força Aérea jogou napalm em três áreas no sul do Pará, região do Araguaia.
“As missões pretendidas pelo CMP (Comando Militar do Planalto), aqui mencionadas no item 1, foram executadas no decorrer das operações; há a acrescentar àquele repertório o bombardeio de três áreas com bombas ‘napalm’ e de emprego geral”, registrou o tenente-coronel no documento classificado como “secreto” pelas forças militares.
O item 1 do relatório, a que se refere Araújo descrevia o apoio aéreo pretendido e solicitado à Força Aérea, durante a Manobra Araguaia/72. A ação visava essencialmente permitir ao comando do CMP a realização de atividades como transporte de tropas, de suprimentos, evacuação aeromédica, reconhecimento aéreos e missões aerofotográficas, apoio aéreo aproximado, atividades de busca e salvamento e controle de tráfego aéreo civil na região do Araguaia.
Mas não especificava o bombardeio com o agente napalm. O comando do CMP estava a cargo do general Orlando Geisel, ministro do Exército.
O uso de napalm em guerras produziu uma foto clássica. Uma garotinha correndo nua, chorando, com o corpo queimado por napalm após um ataque com a bomba incendiária.
Kim Phuc, hoje com 58 anos, tinha 9 anos quando foi atingida por napalm. Ela realizou tratamento a laser no ano de 2010 para suavizar as dores do corpo e no tecido cicatrizado em todo seu braço esquerdo, pescoço e costas queimados no bombardeio.
O napalm gruda na pele. As vítimas não conseguem escapar do calor intenso. Kim Phuc teve a pele destruída até a camada de colágeno. Foram criadas cicatrizes profundas, com até quatro vezes a espessura da pele.
“Jogaram napalm lá na floresta, perto de onde estavam os guerrilheiros. Jogaram junto com bombas”, lembra Pedro Matos do Nascimento, o Pedro Marivete, camponês na região de São Domingos do Araguaia, que foi preso e torturado num centro de tortura em Marabá na década de 1970, a chamada Casa Azul. Marivete hoje é anistiado político.
A utilização da bomba incendiária napalm no Araguaia foi realizada de forma não oficial. Sequer constou dos relatórios oficiais assinados pelos generais Olavo Vianna Moog e Antônio Bandeira, segundo os jornalistas Taís Morais e Eumano Silva no livro “Operação Araguaia”.
Esses relatórios estão contidos em uma pasta azul com o título “Manobra Araguaia 72” com mapas, fotografias e documentos timbrados do Ministério do Exército e Comando Militar do Planalto. A Manobra Araguaia contou com forças do Exército, Marinha e Aeronáutica e registram as ações contra os militantes do PC do B na guerrilha do Araguaia.
O Anexo D não revela quanto foi utilizado de napalm. Nem as localidades onde o desfolhante foi jogado. Mas mostra que foram realizadas 551 horas de voo, com o consumo de 184.500 litros de combustível.
Detalha ainda que foram transportados 675 homens por quatro helicópteros e 13 aviões utilizados nessas missões pela FAB.
Em 1998, a Folha de S.Paulo havia publicado matéria que dizia que um artigo, escrito pelo coronel do Exército Álvaro de Souza Pinheiro, apontava que a Força Aérea Brasileira havia bombardeado a Serra das Andorinhas, na região do Araguaia, no sul do Pará, durante os combates à guerrilha.
O texto está contido na revista Airpower Journal, da Força Aérea do Estados Unidos.
Agora, os documentos secretos do próprio Exército comprovam o uso dessa arma cruel, condenada por organismos internacionais.
As Forças Armadas não se pronunciam sobre este episódio.
Abaixo, trecho do documentário “Camponeses do Araguaia – A Guerrilha Vista por Dentro”, de Vandré Fernandes, com imagens de um bombardeio aéreo.
Fonte – Diário do Centro do Mundo
G1
Relatório aponta uso de napalm pelo Exército contra Guerrilha do Araguaia
Substância química foi utilizada durante a Guerra do Vietnã.
Relatório feito em 1972 foi divulgado pela Comissão Nacional da Verdade.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgou nesta quinta-feira (9) relatório que mostra que as Forças Armadas do Brasil podem ter usado bombas napalm, mistura de gasolina e resina, contra guerrilheiros do Araguaia na década de 70. A substância química napalm foi desenvolvida na Segunda Guerra Mundial e utilizada como armamento durante a Guerra do Vietnã.
Cláudio Fonteles, integrante da Comissão, encontrou no Arquivo Nacional de Brasília o relatório de apoio aéreo, elaborado em novembro de 1972, quando o Exército começou a combater os guerrilheiros do Araguaia. Segundo o relatório, os militares usaram bombas napalm em três áreas.
“As missões pretendidas pelo CMP [Comando Militar do Planalto] aqui mencionadas no item 1 foram executadas no decorrer das operações; há a acrescentar àquele repertório o bombardeio de três áreas com bombas napalm e de emprego geral”, diz o relatório elaborado pelo tenente-coronel Flarys Guedes Henriques de Araújo.
No relatório, também há a descrição de estratégias de combate utilizadas pelas Forças Armadas. Nas duas primeiras campanhas militares no Pará, em 1972, a cúpula militar enviou tropas convencionais para tentar eliminar a guerrilha. Depois, em 1973, os comandantes decidiram enviar grupos especiais de combate.
Fonte – G1
Isto É
Relatório militar aponta uso de napalm contra a guerrilha
Um relatório militar indica que as Forças Armadas podem ter usado napalm, mistura de gasolina com resina, com mais frequência na guerra psicológica contra os guerrilheiros do Araguaia, possivelmente em 1972. Estudo divulgado nesta quinta-feira por Claudio Fonteles, da Comissão Nacional da Verdade, destaca a guardado no Arquivo Nacional, o Relatório de Apoio Aéreo foi elaborado em novembro de 1972 pelo tenente-coronel Flaryz Guedes Henriques de Araújo, em plena guerra contra os guerrilheiros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Em 2005, o jornalista e escritor Luiz Maklouf Carvalho divulgou artigo do coronel Álvaro de Souza Pinheiro, escrito naquele ano, sobre o uso de napalm na Serra das Andorinhas, na região de São Geraldo do Araguaia. No estudo sobre o Araguaia, Fonteles reforça ainda a convicção de grupos de direitos humanos e pesquisadores de que as Forças Armadas têm informações sobre a localização dos corpos dos guerrilheiros mortos no Araguaia.
Fonte – Isto É