Um Compromisso com a História

Com “50 anos de arte – uma antologia”, Raul Córdula ocupa Galeria Janete Costa

Costuma-se dizer que a memória coletiva se forma ou se reforma a partir das nuances provindas de diferentes gerações, pois na impossibilidade de esboçar uma lembrança única e socialmente compartilhada de um determinado período de nossa história recente, especialmente se pensarmos em anos sinistros, como os do Regime Militar, terminamos por apostar numa miríade de olhares que envolve pessoas com diferentes inserções no tempo.

Sejam as que viveram, militaram e foram perseguidas, sejam as cuja vivência durante a infância desvinculava a memória de casos de tortura, sejam os filhos da redemocratização cuja experiência se restringe aos relatos dos mais velhos. Nesse sentido, constituindo um quarteto com a exposição de Daniel Santiago no Mamam, com a de Sílvio Hansen no Museu do Estado e conectada com o “timing” da instauração da Comissão da Verdade, a exposição “50 anos de arte – uma antologia”, que passa a limpo a carreira de Raul Córdula, revela como o paraibano radicado em Pernambuco traduz através de nove séries, um pouco da história política do País. A abertura acontece, amanhã, às 19h, na Galeria Janete Costa no Parque Dona Lindu.

A curadoria do projeto ficou a cargo da jovem Olívia Mindêlo.  “Apesar de Raul ser geralmente lembrado por suas obras geométricas, procurei enfocar também em seu lado mais político, inclusive precedente a essa sua tendência mais bem-sucedida”, comentou. Aliás, o próprio Raul explica que “suas obras procuram refutar essa ideia de que a pintura geométrica vale apenas pela estética, como se funcionasse como uma forma sem conteúdo. A geometria possui um fundo filosófico, os primeiros que trabalharam com esse campo do conhecimento, Pitágoras e Euclides, eram filósofos, tendo uma visão bastante espiritual da vida”. As telas das séries “Paris 1991” utilizam de símbolos e esferas para montar pequenos teoremas, enquanto a série “Geometrias recentes” resgata o abstracionismo por meio de um repertório das fachadas de construções populares.

Dentro das obras assumidamente políticas, “pensando a política como um lugar de refletir sobre o que é público”, como afirmou a pesquisadora e atual gestora do espaço, Joana D’Arc, estão as séries: “Araguaia”, que traça uma espécie de mapa recuperando codinomes de antigos militantes mortos durante a guerrilha; as pinturas “1968” recuperam uma exposição censurada do artista no “ano que não terminou” e a extremamente sensível “O País da Saudade”, uma longa experiência em arte-postal que envolve nomes, relações e afetos, por meio de trocas com Jomard Muniz de Britto, Paulo Bruscky e Tereza da Costa Rêgo. No mesmo espaço, estarão disponíveis ainda uma obra em acrílico pensada para cegos e um vídeo-entrevista produzido pela curadora ao lado de Chico Ludermir e Caio Zatti.

 

Serviço

“50 anos de arte – uma antologia” – Raul Córdula

Galeria Janete, Parque Dona Lindu – Boa Viagem

Abertura amanhã, às 19h – visitação Até 29 de julho

De quarta a sexta, das 12h às 20h – sábados e domingos, das 10h às 12h

R$ 2 (inteira); R$ 1 (meia)

Informações: 3355 9832

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