Chegamos na antiga Assembléia Legislativa e nas escadarias o deputado Afonso Celso fez um comício alertando a população sobre a ameaça de um golpe de Estado de caráter fascista e convocava todos para resistir aos golpistas. Por volta das sete horas da noite chegou um contingente da polícia e um agente ordenou que ele parasse de falar. Afonsinho disse que ninguém ia impedir que ele defendesse a democracia e a legalidade. Nesse instante o agente puxou o revólver e o deputado também tirou o seu. O susto foi geral, mas acabou não acontecendo nada de grave. Entre mortos e feridos todos se salvaram ilesos. Porém, um policial atirou para o alto no sentido de dispersar a multidão. A seguir, após esse entrevero inicial, Afonso Celso entrou na Assembléia e, junto com outros colegas deputados, fechou as pesadas portas de ferro do legislativo e usou uma saída subterrânea existente na época que ia dar atrás do Liceu Nilo Peçanha para sair da área a tempo de participar de uma reunião de emergência da Comissão Executiva do PCB.”
TEXTO PUBLICADO NO LIVRO “ONDE FOI QUE VOCES ENTERRARAM NOSSOS MORTOS”
“Fui surpreendido pelo golpe militar de 1964 no escritório do PCB em Niterói, que funcionava no Edifício Ájax, Praça do Rinque. Ali estava reunida a Comissão Executiva, que na manhã de 1º de Abril ouvia perplexa as notícias transmitidas por um rádio emprestado pelo vigia do prédio. Na véspera, ainda resistíamos nas ruas da antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. As notícias eram de mobilização de tropas em Minas Gerais e de manifesto golpista. Na tarde do dia 31 de março organizamos uma passeata e saímos em marcha pela Avenida Almirante Amaral Peixoto gritando palavras de ordem em defesa do governo João Goulart, da democracia e das reformas.