No próximo dia 09, participo como convidada da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados de uma audiência para discutir o massacre dos waimiri-atroari
Enquanto a Comissão da Verdade da Presidência da República não é composta, a Câmara Federal vai fazendo a sua parte. O Congresso Nacional criou a sua própria comissão para apurar denúncias de violação de direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil.Quem acompanha (nem que seja superficialmente, por meio de fatos recentes) notícias sobre aquele sombrio período, sabe que um grande número de cidadãos (jornalistas, políticas, cientistas, professores universitários, artistas) desapareceram misteriosamente. Ok, não foi assim de forma tão misteriosa, porque sabemos o fim que tiveram. Mas pouca gente sabe as circunstâncias. São episódios não cicatrizados da história que precisam ser revelados, desvendados e expostos para a sociedade.
Tive a oportunidade de falar sobre um episódio pouco conhecido daquele período: o desaparecimento de um número expressivo de indígenas waimiri-atroari em uma reportagem publicada em abril, no jornal A CRÍTICA e no portal acrítica.com.
Minha fonte principal foi o Egydio Schwade, ex-missionário, ex-indigenista da Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e um cidadão extremamente engajado até hoje, morador do município de Presidente Figueiredo, localizado em uma área muito próximi do território dos waimiri-atroari.
Falei com outras pessoas posteriormente, que me confirmaram a pressão (e opressão) exercida contra os waimiri-atroari para que estes aceitassem a construção de uma rodovia (a BR-174) no meio de suas terras – nos bastidores, conta-se que, na verdade, a estrada era para facilitar o escoamento de minério, de uma empresa que se estabeleceria anos depois nas proximidades.
Muita história ainda necessita ser revelada. Eu mesma continuo à procura de novas informações, tentando conversar com o pessoal do Programa Waimiri-Atroari. O importante, porém, é que aquela reportagem teve a sua função social. Teve repercussão local e nacional. Ela perturbou e incomodou. E também provocou indagações, curiosidades – e sim, contestações.
Fui convidada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal para participar de uma audiência pública que acontece no próximo dia 09, em Brasília. A iniciativa é da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Soube que o Egydio, foi convidado também, assim como representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Eletronorte e especialistas em etnologia ameríndia e indigenistas. Confirmei minha presença, com aval da direção do jornal onde trabalho.
Nunca participei de audiência alguma, a não ser no papel de repórter, na cobertura. Terei um tempo curto para fazer a apresentação, que provavelmente será o relato de que apurei e como venho acompanhando este caso. Tenho a esperança de que este momento não trave aqui. Que o tema “waimiri-atroari” volte a ser mencionado com mais vigor a partir de agora.
Os waimiri-atroari é hoje um povo indígena que está quase na condição de incomunicabilidade com a sociedade nacional, exceto por funcionários da Eletronorte. Poucos pesquisadores têm acesso. Jornalista (sei de colegas que, assim como eu, tentam há muitos anos visitar o local) são os menos bem-vindos, com exceção de momentos episódicos, como uma efeméride (tipo o nascimento da criança número mil, como ocorreu há alguns anos). Espero, sinceramente, que saibamos muito mais do que aconteceu e o que aconteceu ali.
Fonte – Elaíze Farias