Dos sete membros anunciados anteontem, só houve alguma resistência à advogada criminalista Rosa Maria Cardoso da Cunha, que defendeu Dilma à época em que a atual presidente foi presa, processada e torturada durante a ditadura militar.
O Planalto anunciou os membros da comissão na última quinta-feira.
Militares ouvidos pela Folha argumentam que o artigo 2º da criação da comissão determina o veto à participação daqueles que “não tenham condições de atuar com imparcialidade no exercício das competências da Comissão”. Segundo eles, esse é o caso de Rosa Maria.
O advogado José Carlos Dias, que viria a ser ministro da Justiça no governo FHC (1995-2002), também atuou em defesa de presos políticos. Sobre ele, os mesmos oficiais não falaram nada.
Na internet, militares da reserva reclamaram de um artigo publicado por Paulo Sérgio Pinheiro na Folha, em 2010, em que ele defende a revisão da Lei da Anistia.
Escrito após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que manteve a Anistia, ele afirma que nos votos dos da corte “preponderou exacerbado anacronismo”, diz que a lei “não foi produto de acordo, pacto, negociação alguma” e chama a ditadura de “Estado bandido”.
No geral, os militares consideraram os nomes anunciados, e que serão empossados na próxima quarta-feira, como experientes, equilibrados e nada radicais, mesmo sendo todos eles ligados aos que lutaram contra a ditadura.
Nenhum dos sete é de alguma forma ligado ao “outro lado”, ou seja, ao dos militares. “Mas nós já sabíamos que seria assim”, ironizou um oficial da reserva, frisando que não houve surpresas.
Há dois outros motivos para a falta de reação belicosa. O primeiro é que Dilma teve o cuidado de avisar o ministro da Defesa, Celso Amorim, e os comandantes da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. O segundo é que as histórias de desaparecimentos, torturas e violações já são amplamente conhecidas.
O grande temor nas Forças Armadas, a partir de agora, é que o objetivo real da comissão, sob o pretexto de levantar “a verdade”, seja o de gerar dados para a abertura de processo criminal contra torturadores e assim criar um clima nacional pela revisão da Lei da Anistia.
Fonte – Folha de S.Paulo