Cara Presidenta Dilma Rousseff.
Muito me emocionou seu discurso.Por empatia me pus em seu lugar e imaginei sua dor, sua juventude roubada,sua impotência diante de um sistema que lhe torturou física,emocional e psicologicamente.
Hoje Presidenta, a Sra. se ocupa da extinção da miséria, tem a imagem de mãe zelosa e dedicada, para com um povo que nunca se sentiu objeto de atenção.Lamentável porém que sua benevolência ainda não privilegie a mim e aos que como eu são já irremediavelmente sequelados, funcionários da falida Varig, sim falida, pois com a venda da marca há quem pense que a Varig foi recuperada.
Existem ações judiciais, inclusive em última instância,dependendo apenas de boa vontade política, já nos foram feitas promessas de solução que não se cumprem, ficando nossos pleitos fadados a servir de estofo às cadeiras da justiça.
Ainda me dói lembrar o quanto rogamos ao BNDES, 300 milhões para salvar a Varig, o que nos foi friamente negado, concomitantemente acompanhávamos os investimentos deste banco até em países estrangeiros.
Como Brizola nos fez falta. Me lembro de seu orgulho como bom gaúcho pela nossa Varig, nas repetidas vezes em que o servi na primeira classe.Ele nos conhecia, nos amava e certamente nos teria ajudado. Resultado, perdeu-se um patrimônio nacional, a aviação brasileira nunca mais foi a mesma, e não haverá outra Varig.
Da mesma forma que a Senhora se sentiu, eu me sinto agora, torturada pela angústia de ver meus colegas morrendo, pelo medo nas noites insones, sob a ameaça de suspensão definitiva do meu plano de previdência privada Aerus, que desde 2006 me paga 60% a menos do que eu faço jus, isso por ser do plano 2, porque os colegas que optaram pelo plano 1 recebem 80% a menos do que lhes caberia. Torturada Sra. Presidenta, por ver o abalo na vida e na saúde de meus filhos, um com epilepsia por stress, outro com depressão.
Não vou discorrer aqui sobre minhas perdas mas, foram muitas e irrevercíveis.Torturada ainda pela humilhação de ter que implorar aos políticos, ao Judiciário e a Senhora por um direito que é meu,pois eu recebia 1200 e pagava 900 reais ao Aerus na expectativa de uma velhice tranquila e um bom futuro para meus filhos, por ter a garantia da União através da Secretaria de Previdência Complementar, atual PEVIC, òrgão fiscalizador criado específicamente para me proteger mas, que a despeito das denúncias nada fez para evitar as irregularidades que acabaram por destroçar nossa auto-sustentação financeira.
Nossa comtemporâneidade nos torna semelhantes, vivemos a ditadura, o feminismo, o sonho dourado do socialismo.Somos mães, eu de 2 filhos a Sra. de uma filha e de uma nação, da qual eu e meus colegas fazemos parte.
Se lhe foi roubada a juventude, nos está sendo roubada a velhice, em alguns casos a vida, já que desde que essa hecatombe nos atingiu mais de 600 morreram por doenças adquiridas pelo desespero ou pelo suicídio. Se seu pranto por suas perdas, por seus mortos e por todas as violações aos direitos humanos que sofreu é legitimo, o nosso também.
Seus gritos abafados nos porões da ditadura militar não sensibilizaram seus algozes. Os gritos em uníssono de 10.000 vozes (fora os dependentes) injustiçadas pelo total desrespeito a seus direitos trabalhistas e previdenciários, portanto alimentícios, regido pelo mesmo princípio jurídico que leva à prisão imediata um pai não pagador, também continuam sendo abafados nos porões da ditadura do descaso e da indiferença, sem sensibilizar aos que podem e devem preservar a justiça, e a cada óbito esse grito se torna mais fraco.
Por ironia nosso algoz é o nosso defensor que não nos salvaguardou nem antes, nem durante nem depois, que agiu dentro de seu mundo entupido de leis e interpretações destas, de burocracia e etc.., desprezando o valor do trabalho e da vida, como se fora cego e surdo ao nossos clamores.
Alerto aquela jovem que um dia sonhou em mudar o mundo, que imbuída de sentimento nobre não poupou a si mesma de todos os riscos inclusive o de morte, que chegou a hora de realizar seu ideal de igualdade e justiça.
Presidenta Dilma, o seu discurso me comoveu, será que algum dia a Senhora se comoverá com o meu?
Cordialmente.
Angel Nunes.
Comissária de bordo da Varig, com muito orgulho por ter representado em 10.000 horas de vôo, a qualidade superior de uma empresa e o nome de meu amado país pelos mais diversos cantos do mundo.