Filho de Betinho, Daniel Souza produz documentário sobre as Caravanas da Anistia

‘Eu me lembro’, dirigido por Luiz Fernando Lobo, foi feito a pedido do Ministério da Justiça

José Celso Martinez Corrêa em “Eu me lembro”: momento de humor

Daniel Souza nasceu em 1965, quando os pais, militantes políticos na ditadura brasileira, viviam na clandestinidade. Após morar entre Chile, Suécia e Inglaterra, voltou ao Brasil aos 15 anos. Foi quando aprendeu finalmente o português. Aos 32 anos, perdeu o pai, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

— Crescer no exílio influenciou minha visão. Sempre trabalhei por causas públicas. E, neste sentido, sou sim um herdeiro. Mas achei meu caminho e aprendi a usar meu trabalho nesse caminho — ele diz.

O caminho foi a criação, há oito anos, de uma empresa de comunicação especializada em campanhas de causas sociais, e que acaba de finalizar o longa “Eu me lembro”, produzido por Daniel, a pedido do Ministério da Justiça, e dirigido por Luiz Fernando Lobo. O filme, que conta a história das Caravanas da Anistia, deve estrear no Festival do Rio, entre 27 de setembro e 11 de outubro, após uma pré-exibição no festival Cinema pela Verdade, em agosto. O trabalho inicial foi analisar o acervo gravado desde o início das caravanas, em 2008. As cenas mostram depoimentos emocionantes após pedidos simbólicos de desculpas, por parte do Estado, a perseguidos políticos durante a ditadura no Brasil.

— Cerca de 50 mil pessoas já pediram para participar das caravanas, a maioria anônima. São servidores públicos, perseguidos políticos e até militares, que foram torturados, perderam o emprego e o convívio com família e amigos, ou sofreram alguma restrição por causa da ditadura. Há depoimentos comoventes de gente que esbarrava com seu torturador na rua e nada podia fazer. Chile e Argentina já vinham realizando esse dever de casa, mas nós estávamos muito atrasados. Neste sentido, estamos corrigindo isso com o filme, seja apontando quem são essas pessoas, seja dizendo: passamos nossa História a limpo.

A edição de cenas antigas e a filmagem de novas caravanas durou um ano e meio. Mas a qualidade ruim impediu que muitas gravações anteriores fossem aproveitadas. E o editor de imagem, Tuco, fez da edição um trabalho exaustivo de pesquisa histórica.

— Ele e o Luiz Fernando Lobo vestiram a camisa do projeto e assistiram a centenas de horas de gravações, transformando o material em histórias emocionantes, que precisavam ser contadas. Para muitos, a caravana significa fechar um ciclo. A que mais me marcou foi a de um militar que era perseguido na ditadura. Na hora de receber a anistia, ele disse apenas: “Se acontecesse de novo, eu faria tudo de novo”.

No futuro, filme sobre o pai

Há ainda famosos como o cineasta Glauber Rocha — anistiado post-mortem em um teatro lotado — e o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, que fez uma encenação especial engraçadíssima para a homenagem. Betinho, também anistiado, não está no longa.

— A imagem da caravana do meu pai não era relevante, e ele já esteve em curtas de Luiz Fernando Lobo sobre a Anistia. Mas ainda quero filmar a história dele. É ideia antiga.

 

Fonte – O Globo

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