A foto acabou se tornando uma das marcas da ditadura militar no Brasil. Silvaldo era um novato como fotógrafo da polícia quando registrou uma farsa: a morte por tortura de Vladimir Herzog montada como suicídio.
A Comissão da Verdade em São Paulo ouviu nesta terça-feira (28) o fotógrafo que registrou a imagem do jornalista Vladimir Herzog morto, em outubro de 1975. A foto acabou se tornando uma das marcas da ditadura militar no Brasil. O filho de Vladimir acompanhou o depoimento.
A foto, o fotógrafo e o filho da vítima, reunidos na mesma sala pela primeira vez.
Silvaldo Leung Vieira veio dos Estados Unidos, onde mora, para contar a história por trás de uma das imagens mais marcantes da ditadura militar: a do jornalista Vladimir Herzog morto nas dependências do Exército. Na segunda-feira ele voltou ao local da foto, nesta terça depôs na Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo.
“O cadáver em frente à porta. E me falaram: ‘Fotografa’”, lembra.
Silvaldo tinha 22 anos. Era um novato em treinamento como fotógrafo da polícia quando foi chamado para registrar uma farsa que ele e muitos outros logo perceberam: a morte por tortura montada como suicídio.
“Eu, pessoalmente, achei estranho a posição do cadáver. Pela posição dos pés, os pés no chão e também a blindagem sigilosa de não deixar tirar outras fotos do local”, afirma.
A foto de Vladmir Herzog foi o primeiro, mas não o último registro de uma vítima da violência e da tortura feito por Silvaldo Leung Vieira. Ele trabalhou por três anos como fotógrafo da Polícia Civil. Ficou amargurado e arrependido pelo que viu e viveu.
Silvaldo trabalhou ainda como fotógrafo em perícias criminais até ser transferido para um presídio em Santos onde também havia tortura, segundo ele.
Foi assim até juntar dinheiro e ir para os Estados Unidos.
O filho de Herzog lamentou o que acha ter sido uma escolha. “Para mim ele não é uma vítima. Ele era um adulto, responsável pelas suas ações e ele fez parte desse esquema terrível”, comentou.
“Não me sinto cúmplice. Eu me sinto mal de ter convivido com isso”, lamentou o fotógrafo.
No Rio de Janeiro duas vítimas da tortura também falaram nesta terça à Comissão Estadual da Verdade. A cineasta Lucia Murat que ficou presa por mais de três anos. E a historiadora Dulce Pandolfi que, emocionada, contou que serviu de cobaia em aulas para torturadores.
“O professor diante de seus alunos fazendo demonstrações com o meu corpo”, revelou a historiadora durante o depoimento.
Ela também destacou a importância de passar esse período da história a limpo.
“Eu acho que a gente está colocando uma sementinha nessa caminhada em prol de um país, mais justo, mais humano e mais solidário”, disse.
Fonte – G1