Familiares de perseguidos pela ditadura pedem mudanças na Comissão da Verdade

Os familiares de perseguidos pela ditadura militar enviaram nesta segunda-feira uma carta à Comissão Nacional da Verdade (CNV), pedindo mudanças na forma de atuação do colegiado e em sua estrutura. O objetivo da carta é “externar indignação” com o funcionamento da comissão, que eles consideram ter pouca transparência, ser moroso e sem unanimidade. Entre os pedidos, está o retorno de Cláudio Fontelles, ex-presidente do grupo, e substituição de Gilson Dipp, que se afastou do colegiado por motivos de saúde.

Os familiares afirmam, na carta, que a postura de Fonteles – elogiada pelos signatários – na liderança do colegiado foi confrontada por outros integrantes do grupo. “Houve momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio Fonteles no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em torno dos mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando vimos que essa postura era duramente questionada por outros integrantes da CNV!”, afirmam, em trecho da carta.

“A partir de então, temos assistido as divergências internas se transformarem em ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração de descompromisso com a verdade e a história, refletindo na falta de clareza do papel histórico da CNV”, expressam os familiares.

Na carta, os familiares cobram ações do colegiado, como a convocação de agentes do estado responsáveis por crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados, e a divulgação dessas audiências. Eles reforçam também a necessidade de um plano de trabalho com “objetivos e metodologia definidos” e prioridade a investigação sobre os mortos e desaparecidos políticos e sobre a estrutura de repressão.

Ao final da carta, eles propõem, além do retorno de Fonteles e substituição de Dipp, “a garantia de que todos os integrantes estejam voltados prioritária e realmente para os trabalhos da CNV”, comprometidos não só com a confecção de um relatório final da comissão mas com os avanços ao longo desse processo. Os familiares também pedem mais audiências públicas, com agentes públicos e também com testemunhas; e empenho em garantir a abertura total dos arquivos dos órgãos de repressão e informação da ditadura.

Os signatários criticam, ainda, o foco do colegiado em compilar um relatório final dos trabalhos e afirmam que o grupo deve se concentrar nos trabalhos para chegar a esse relatório.

A carta é assinada por 27 instituições que representam os 140 familiares de mortos e desaparecidos políticos e ex-prisioneiros políticos, entre eles Luiz Eurico Tejera Lisbôa. Reportagem do GLOBO mostrou que laudo pericial produzido para a Comissão Nacional de Verdade desmonta a versão oficial de que o ex-militante, da Ação Libertadora Nacional (ALN) suicidou-se com um tiro na cabeça num quarto de uma pensão no bairro da Liberdade, em São Paulo, em 1972. O documento, assinado por três peritos, foi feito a partir de fotos da época. Eles concluem que Eurico não se matou.

 

Entre as 27 entidades que assinam o documento estão comitês de Memória e Verdade e Justiça de várias capitais, além da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil; Casa Latino Americana de Curitiba; Centro Cultural Manoel Lisboa; Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça; Comissão da Verdade Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás; Comitê Carlos De Ré da Verdade e da Justiça; Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro; Instituto de Estudos Políticos Mário Alves (Pelotas – RS); Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e o Sindicato dos Jornalistas da Paraíba.

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