Um novo coordenador para pacificar a CNV

No cargo desde maio passado, Rosa Maria Cardoso deixa a função hoje, após acumular desentendimentos. José Carlos Dias deve assumir o posto

Acaba hoje o mandato da advogada Rosa Maria Cardoso na coordenação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Escolhida com a intenção de permanecer na função até o fim dos trabalhos do grupo, previsto para maio de 2014, Rosa acabou acumulando desentendimentos e deverá ser substituída na próxima reunião da comissão. O sucessor terá o desafio de resolver os conflitos internos e correr contra o relógio para concluir os trabalhos com dois colaboradores a menos — o ministro Gilson Dipp se licenciou por motivos de saúde e o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles pediu para sair devido a divergências internas. Quem deve assumir a coordenação é o advogado José Carlos Dias, que conta com a aprovação da presidente Dilma Rousseff.

Para tentar dar início a um novo ciclo, com o colegiado pacificado, Dilma deve se reunir com Dias assim que ele assumir a coordenação do grupo — caso a indicação seja confirmada. A previsão é que ele seja eleito no próximo dia 26, durante a primeira reunião depois do fim do mandato de Rosa.

Os desentendimentos entre os pesquisadores da comissão foram evidenciados em junho, quando Claudio Fonteles deixou a equipe. Havia discordância em relação à postura do ex-procurador-geral em dar publicidade a algumas das ações do colegiado. Foram feitas críticas à ansiedade do ex-integrante em publicar artigos sobre os documentos que encontrava no Arquivo Nacional porque alguns deles não eram desconhecidos, como ele deixava entender.

Os embates eram mais duros com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, conhecido pelo jeito mais enérgico, que defendia divulgar o resultado das investigações da CNV somente ao fim dos dois anos de trabalho, quando será publicado o relatório final. “Não era uma tentativa de diminuir a transparência da comissão. Eram apenas opiniões diferentes, tratadas de forma aberta nas reuniões”, relata um integrante da comissão, que não quis se identificar.

As diferenças se acirraram quando a advogada Rosa Cardoso assumiu a coordenação, em 17 de maio passado. Ela chegou a enviar uma carta à presidente Dilma Rousseff pedindo a demissão de três integrantes do grupo e a reintegração de Claudio Fonteles. Por meio do chefe de gabinete, Giles Azevedo, Dilma mandou avisar que estava satisfeita com o trabalho da comissão e descartou mudanças. “Parece que ela tentou imprimir um projeto, uma ideia que ela tinha da comissão, que não era o que a CNV tinha até então”, conta um dos integrante do colegiado.

Por conta das divergências internas, foi descartada a ideia de acabar com o esquema de rodízio na coordenação. Parte do colegiado acredita, hoje, que o clima pode melhorar com a saída de Rosa Cardoso do cargo, para que assuma alguém com perfil mais conciliador. Instalada em maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade investiga violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 no Brasil por agentes do Estado.

Integrantes
Confira os atuais titulares da CNV e quem já participou do colegiado

Composição atual
»  Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada, professora e escritora
»  José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça
»  José Paulo Cavalcanti Filho, advogado, consultor e escritor
»  Maria Rita Kehl, psicanalista, cronista e crítica literária
»  Paulo Sérgio Pinheiro, diplomata e sociólogo da USP

Deixaram a comissão
»  Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República
»  Gilson Dipp*, ministro do STJ

*licenciado por motivos de saúde, não deve voltar ao grupo

Autor(es): JULIANA BRAGA

 

Correio Braziliense – 16/08/2013

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