Como o Brasil comandou casos de espionagem durante a ditadura militar

O Brasil hoje protesta contra o trabalho de espionagem feito pelos norte-americanos, mas no passado, durante a Ditadura Militar (1964-1985), o País usou do mesmo expediente para saber o que as nações vizinhas faziam. É o que indica documentos do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) revelados recentemente pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O arquivo aponta a criação, em 1978, do Plano de Informações Estratégicas Militares (Piem), uma espécie de manual para as atividades de informações no exterior. A estratégia do governo naquela época era monitorar e coletar dados de todos os países da América Latina, com auxílio de funcionários de embaixadas brasileiras e também do Ministério das Relações Exteriores.

As informações a serem apuradas se concentravam nos órgãos militares dos países latinos vizinhos e visavam levantar dados sobre a estrutura desses departamentos, a hierarquia, o modelo de funcionamento, as forças e equipamentos existentes, as bases espalhadas pelo território, a logística adotada, o perfil da tropa, os possíveis segredos militares etc.

Os dados coletados deveriam ser enviados ao EMFA em datas específicas, de acordo com o Piem.

A prática comprova, dessa forma, que a Ditadura Militar não só monitorava cidadãos brasileiros aqui e no exterior, principalmente aqueles que se mostravam contrários ao poder, como também exercia espionagem em governos de outros países.

Com a medida, a Ditadura Militar acreditava que estaria mais preparada para um possível conflito com países vizinhos. Além disso, poderia se valer de informações privilegiadas de uma instável América Latina em caso de ameaça.

A Argentina, segundo esses arquivos até há pouco tempo secretos, era o maior inimigo, principalmente em caso de aliança com o Uruguai e o Paraguai, na visão da Ditadura Militar. Os relatos do documento expõem despreparo das Forças Armadas brasileiras para possível guerra, a despeito dos países vizinhos também apresentarem falhas em sua áreas de defesa.

As maiores dificuldades do Brasil se concentravam na logística e nos equipamentos. Mas o então presidente Ernesto Geisel não concordava em repassar altos recursos para melhor militarizar o País, em meio à crise que a economia vivia naquele período. A visão de Geisel é que não havia risco a curto prazo para alocar elevados recursos para reaparelhamento das Forças Armadas. No entanto, lideranças do Exército, Marinha e Aeronáutica questionaram a não liberação de verbas alegando falta de poderio bélico do País.

Ciex

Antes da adoção do Plano de Informações Estratégicas Militares, em 1978, já se sabia que o governo militar brasileiro fazia espionagem em outros países, embora de forma menos pragmática. A atividade era exercida pelo Centro de Informações do Exterior (Ciex), ligado ao Ministério das Relações Exteriores. Aliados eram enviados a países vizinhos para monitorar ações que ameaçassem a segurança nacional, principalmente aqueles que recebiam exilados do Brasil, como o Uruguai e Chile.

Assim como em território brasileiro, esses aliados se infiltravam lá fora em ambientes subversivos para monitorar ameaças ao País. Eles viajam frequentemente ao Brasil para repassar informações.

 

Também fala-se em viagens de arapongas para Europa pelo Ciex, mas ao contrário de ações em países vizinhos cuja espionagem se concentrava em coleta de dados amplos de contextos políticos, no velho continente a Ditadura Militar se limitava a acompanhar os passos de exilados brasileiros.

 

Fonte – Yahoo

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