Paulo Stuart Wright em seu discurso inaugural na Assembleia Legislativa de SC, em 1962
Na próxima semana completam-se 40 anos do desaparecimento do deputado estadual catarinense Paulo Stuart Wright, ocorrido durante a ditadura militar. Para lembrar a data, o Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça organizou uma série de eventos, com o apoio da Assembleia Legislativa e da Comissão Nacional da Verdade. Entre os destaques estão uma audiência pública para coleta de informações sobre o desaparecimento de Paulo Stuart Wright e uma sessão especial em memória da vida do deputado catarinense. Ambos os eventos serão realizados na quarta-feira (4) na Assembleia Legislativa.
Participa da audiência e da sessão solene o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, José Carlos Dias, que advogou para presos políticos durante os anos 60 e 70 e defendeu Paulo Stuart Wright. Outra presença importante é a do membro da Comissão da Verdade de Pernambuco, Manoel Moraes, que apresentará informações a respeito do possível elo entre o desaparecimento de Wright e as mortes de outros militantes políticos.
Na quinta-feira (5) será realizada uma audiência especial da Comissão Estadual da Verdade com Mulheres Catarinenses Presas Políticas. Nessa audiência as participantes responderão um questionário sobre as experiências pelas quais passaram durante o regime militar, que será encaminhado para as Organizações das Nações Unidas.
Na programação da semana também fazem parte uma palestra e um debate sobre Memória, Verdade e Justiça, marcados para a terça-feira (3), na Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina, além de uma exposição no Hall da Assembleia Legislativa e da exibição de um programa especial sobre Wright pela TV Floripa.
Quem foi Paulo Stuart Wright
Paulo Stuart Wright nasceu em Herval d’Oeste, no dia 2 de junho de 1933. Irmão do pastor Jaime Wright, filho de Lathan Ephrahim Wright e de Maggie Belle Müller Wright, ambos norte-americanos, Stuart era diplomado em engenharia pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi deputado estadual de Santa Catarina na 5ª legislatura (1963 — 1967), eleito pelo Partido Social Progressista (PSP). Cassado pelo Ato Institucional Número Cinco (AI-5), exilou-se no México e retornou clandestinamente ao Brasil. Preso em São Paulo na 1ª semana de setembro de 1973, não se teve mais conhecimento sobre seu destino desde então.
José Carlos Dias, coordenador da CNV, advogou para Wright e estará numa audiência na qual serão reveladas novas pistas sobre o caso
A Comissão Nacional da Verdade participa em Florianópolis, no próximo dia 4 de setembro, da Audiência Pública para coleta de informações sobre o desaparecimento de Paulo Stuart Wright e de uma sessão solene em memória da vida do deputado catarinense cassado em 64. Ambos os eventos ocorrerão na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
A audiência e a sessão solene fazem parte da Semana Paulo Stuart Wright, organizada pelo Coletivo Catarinense de Memória, Verdade e Justiça, que terá, no dia 3, uma palestra e um debate sobre Memória, Verdade e Justiça e, no dia 5, uma audiência especial da Comissão Estadual da Verdade com Mulheres Catarinenses Presas Políticas, além de uma exposição e da exibição de um programa de TV especial sobre Wright.
Dão apoio e participam das atividades em Santa Catarina a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a Comissão Estadual da Verdade de SC, criada em março deste ano e que recebeu o nome de Paulo Stuart Wright, e 12 entidades da sociedade civil catarinense e partidos políticos.
Participa da audiência e da sessão solene o coordenador da CNV, José Carlos Dias. Ele advogou para presos políticos durante os anos 60 e 70 e defendeu Paulo Stuart Wright.
A audiência e a sessão solene serão transmitidas pela TVAL (TV da Assembleia Legislativa de Santa Catarina), em sinal a cabo, apenas para o Estado de Santa Catarina. A Comissão Nacional da Verdade transmitirá a audiência pela internet, no link:http://www.twitcasting.tv/CNV_Brasil
PISTA EM PERNAMBUCO – Na audiência em Florianópolis, Manoel Moraes, membro da Comissão da Verdade de Pernambuco Dom Hélder Câmara apresentará informações a respeito do possível elo entre o desaparecimento de Wright e as mortes de outros dois militantes políticos da AP: José Carlos Mata Machado, preso em São Paulo, e Gildo Moura Lacerda, preso em Salvador, ambos mortos no Recife, em outubro de 1973, um mês após o sequestro de Wright.
Segundo uma testemunha ouvida pela comissão pernambucana, Mata Machado, cujo corpo foi resgatado, estaria enterrado ao lado de Gildo e de um terceiro militante, no cemitério da Várzea, no Recife.
A comissão pernambucana acredita que a cena da morte dos três militantes, que na versão oficial da época teria ocorrido numa suposta troca de tiros, tenha sido um “teatrinho” montado pelo aparato de repressão, uma vez que diferentes testemunhas afirmam ter visto Gildo, morto, no Doi-Codi do Recife.
BIOGRAFIA – Paulo Stuart Wright nasceu em 1933, em Joaçaba, Santa Catarina, filho dos missionários presbiterianos norte-americanos, Maggie Belle Wright e Lothan Ephrain Wright. Ao final de seus estudos, ele fez uma pós-graduação nos Estados Unidos, onde viveu cinco anos, envolvendo-se nos movimentos pelos direitos civis dos negros.
Para não lutar na Guerra da Coreia para a qual foi convocado, Wright voltou para o Brasil, fixando-se em São Paulo, onde foi trabalhar como metalúrgico para conhecer a realidade dos operários. De volta a seu estado natal, Wright, filiado ao PTB, concorreu e perdeu a eleição de prefeito em sua cidade por apenas 11 votos, mas, dois anos depois, em 1962, elegeu-se deputado estadual.
Como deputado, Wright denunciou oligarquias que dominavam a pesca no Estado e organizou 27 cooperativas de pescadores em todo o litoral de Santa Catarina, unindo-as sob a Fecopesca. Em 1963, o deputado sofreu um atentado, mas sobreviveu até que, em maio de 1964, foi cassado sob o argumento de que comparecia às sessões da Assembleia Legislativa de Santa Catarina sem paletó e gravata, mas há registro de forte pressão do Cenimar para que ele fosse cassado por subversão.
Temendo por sua vida, Wright asilou-se no México, retornando clandestinamente ao país um ano depois, onde militou na Ação Popular. Após a divisão da AP, movimento originado na militância cristã contrária ao golpe. Quando uma parte de seus dirigentes adeirou ao PCdeB, Paulo Stuart continuou no agremiação, com o nome de Ação Popular Marxista Leninista.
No início dos anos 70, as forças repressivas abriram uma ofensiva aos líderes da antiga AP e Wright foi sequestrado no início do mês de setembro, em 1973, e depois conduzido ao Doi-Codi em São Paulo, onde testemunhos indicam que ele esteve preso. Uma ficha localizada no Dops-PR indica ao lado de seu nome a inscrição “falecido”. Sua prisão jamais foi confirmada pelas autoridades da época e seu corpo jamais foi localizado.
O irmão de Wright, o pastor Jaime Wright, que mais tarde foi um dos responsáveis pela organização do projeto “Brasil: Nunca Mais”, durante toda a vida lutou para localizar o irmão.
PROGRAMAÇÃO
Semana Paulo Stuart Wright – 40 anos de seu desaparecimento
03 de setembro – Terça-feira
19h – Palestra e debate: Memória, Verdade e Justiça
Palestrante: Prof. Fernando Ponte
Local: FECESC – Rua Mauro Ramos, 1624, Florianópolis, SC
04 de setembro – Quarta-feira*
17h – Audiência Pública para Coleta de Informações sobre o desaparecimento de Paulo Stuart Wright, em setembro de 1973
Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc)
19h – Sessão Solene em memória da vida de Paulo
Plenário Osni Regis, da Alesc
* Os eventos do dia 4 de setembro terão transmissão da TV AL, da Assembleia Legislativa, via cabo. A CNV fará a transmissão pela internet no endereço:http://www.twitcasting.tv/CNV_Brasil
05 de setembro – Quinta-feira
14h – Audiência Especial da Comissão Estadual da Verdade de Santa Catarina com Mulheres Catarinenses Presas Políticas durante a ditadura militar**
****Nesta audiência, duas pesquisadoras do GT Gênero da CNV estarão a disposição para colher depoimentos privados mais completos de mulheres que desejem relatar em detalhes as violações de direitos humanas sofridas.
Local: Plenarinho da Alesc
A Alesc, local das audiências e sessões de 4 e 5 de setembro, está situada na Rua Jorge Luz Fontes, 310, no centro de Florianópolis.
EXPOSIÇÃO DIREITO À MEMÓRIA, DIREITO À VERDADE
Poderá ser visitada de 2 a 6 de setembro na ALESC.
06 de setembro – Sexta-feira
13h – Exibição do Programa Especial sobre Paulo Stuart Wright no programa Floripa em Foco, da TV Floripa.
Organização: Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça
Fonte – Comissão Nacional da Verdade – Assessoria de Comunicação