Não existem dúvidas de que a Revolução de 1930 se constituiu no movimento de nossa história recente que possibilitou ao país alçar-se à condição de nação moderna. Antes de 1930, o Brasil, com um passado advindo da escravidão e do agrarianismo, era um país dominado pelas oligarquias regionais. A Revolução de 1930 veio para acabar com esta velha ordem impregnada na República Velha, assim, procurando construir uma nova ordem de valores.
O “progresso dentro da ordem” que deveria prevalecer. Na verdade, o movimento era revolucionário sem deixar de ser burguês. Certamente, foi por essa razão que o “cavaleiro da esperança” – Luís Carlos Prestes – a ela não aderiu. Naquela época, Prestes já estava bastante próximo de se converter ao marxismo.
Todos sabem que a vitória e a liderança do movimento revolucionário eram diretamente relacionadas à figura do político que mais tempo exerceu o poder no Brasil Republicano: o gaúcho Getúlio Vargas. A importância da “velha raposa” na condução desse grande movimento da vida brasileira acaba, de certo modo, sendo contestada na biografia que escreveu o brasilianista Stanley Hilton a respeito da vida de um personagem que teve muita importância na vida política do país, nos anos 20 a 50 do século passado: Oswaldo Aranha. Este, gaúcho como Getúlio, logo se destacou na articulação do movimento revolucionário. “Nele sobraram coragem, imaginação, poder de improvisar e de conquistar adeptos, além de uma infatigabilidade assustadora”,disse, a respeito dele, seu conterrâneo de lutas João Neves Fontoura, ex-ministro das Relações Exteriores.
O escritor Alceu Amoroso Lima, testemunha presente nos acontecimentos, é outra personalidade que ressaltou a importância de Oswaldo Aranha no sucesso do movimento: “mais do que o próprio Getúlio Vargas, foi Oswaldo Aranha a figura mais impressionante e representativa da Revolução de 30” .
Os escritos de Stanley Hilton relativizam a importância de Getúlio Vargas ao comparar sua atuação com a de Aranha. Para ele, o pai do trabalhismo brasileiro queria uma solução negociada com o governo federal, comandado pelo presidente que se desejava depor: Wasghinton Luís.
Oswaldo Aranha pensava e agia exatamente ao contrário do chefe, pois não via outra saída senão o confronto armado. Resultado: corajosamente consciente do risco que correria ante o caminho da revolução com sangue, teve o prestígio, respeito e liderança para angariar fundos e armar os descontentes. Vitorioso o movimento, Getúlio chegou enfim ao poder. Oswaldo Aranha sempre se manteve absolutamente fiel a Getúlio, embora aspirasse também a ser presidente.
De intendente da cidade gaúcha de Alegrete, em poucos anos, ele se tornou ministro, embaixador e presidente da histórica Assembleia das Nações Unidas que criou o Estado de Israel. Aliás, este foi o cargo mais alto que um brasileiro já ocupou em nível internacional. Poderia ter sido presidente da República, não fosse a extrema lealdade que tinha a Vargas. Este, embora o prestigiasse, preteria sua pretensão, mantinha-o maquiavelicamente debaixo de suas asas. Agindo assim, a “velha raposa” não temia que a cria se tornasse maior que seu criador? Talento, certamente, Oswaldo Aranha tinha para ser presidente da República. Não restam dúvidas de que, sem ser presidente da República, Oswaldo Aranha foi um grande nome da nossa história que os escritos de Stanley Hilton ajudam a resgatar.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento, autor, entre outras obras, de “A Energia na Região do Agronegócio”)
Fonte – DIÁRIO DA MANHÃ