Jornalista Márcio ABC lança quarto romance, que traz história de amigos fascinados pelos Rolling Stones em meio à adolescência e ditadura
“Na Pele dos Meninos” traz um pouco da experiência vivida pelo autor em sua própria adolescência no período ditatorial
A adolescência é tempo de sonhos, ilusões e descobertas. Porém, nem todas as descobertas são agradáveis, principalmente quando se vive no Brasil da década de 1970, sob o regime da ditadura militar. É justamente sobre este período nefasto da história brasileira que se debruçou o jornalista Márcio ABC para produzir seu quarto romance, “Na Pele dos Meninos”, que lança hoje, a partir das 20h30, em sessão de autógrafos no Templo Bar.
A obra é publicada pela editora Kazuá, tem 266 páginas e relata a história de um grupo de jovens que ama os Rolling Stones e encara os típicos desafios da passagem da infância para a vida adulta. Porém, com o desenvolvimento da história, percebe que mundo não é apenas rock’n’roll, apesar de gostarem disso, e constata que a realidade pode despedaçar sonhos e imergi-lo em uma obscura realidade, mais próxima de pesadelos.
ABC conta que a história de “Na Pele dos Meninos” tem início em 1976, em uma cidade do interior, onde os protagonistas, um grupo de cinco meninos e uma menina, vivem um mundo de fantasias com a trilha sonora dos Rolling Stones, experimentando as relações fortes que podem surgir na adolescência e as turbulências que isso causa. “Eles descobrem a amizade, o sexo… e têm sonhos utópicos, além de formar a banda. Estão na oitava série e sonham em fugir para ver show dos Rolling Stones”, relata.
Porém, acontecimentos dramáticos rompem este mundo particular e os levam à realidade dos “Anos de Chumbo”. “Eles vão caindo em algumas situações que empurram este grupo para ‘armadilhas’ que têm a ver com a época da ditadura, com perseguições políticas, com o envolvimento de pessoas próximas a eles e uma tomada de consciência, que ocorre depois”, revela ABC.
Paralelamente à narrativa da história dos adolescentes, ABC oferece ao leitor uma troca de correspondência entre dois militantes de esquerda, guerrilheiros que têm ligações com os protagonistas, delineando o momento sombrio, violento e traumático pelo qual passava a sociedade brasileira. “Isso ajuda a contextualizar e explicar a situação que os garotos estão inseridos. Um dos militantes é pai de um dos garotos e o outro guerrilheiro está distante, em um aparelho de combate à ditadura, em São Paulo. Isso vai convergindo para levar este grupo de adolescentes a conviver, no início sem perceber e depois descobrindo aos poucos, com esta situação terrível para o País”, explica o autor.
“Uma metáfora de uma realidade política nacional que levará os protagonistas a jamais poderem se despir completamente de sua pele de meninos, transformando-os em adultos marcados por um passado do qual não poderão se livrar”, resume.
Glossário
Para a produção do livro, ABC fez minuciosa pesquisa histórica e de expressões ligadas aos anos 70. “Inclusive, no final, tem um glossário. Trabalhei o livro com linguagem crua e desabusada. Trabalho os diálogos com muita terminologia da época, que hoje estão em desuso”, define.
No glossário, o leitor encontra explicações de vários termos usados, referências a fatos e personalidades citadas e pode se orientar. “E também das músicas. Principalmente no começo, o livro é muito em cima de uma molecada fascinada pelos Rolling Stones e coloco um histórico das músicas citadas nos diálogos, com trecho citado, nome da música, qual o álbum e ano de lançamento”, observa ABC.
• Serviço
O Templo Bar fica na Rua Benjamin Constant, 1-34. Informações: (14) 3223-3493
Realidade vivida
ABC considera que toda ficção é real. Exceção da ficção científica. Portanto, a invenção é sempre calcada em base sólida, que é a vida e o repertório do autor. Assim, “Na Pele dos Meninos” traz um pouco da experiência vivida pelo autor em sua própria adolescência. “Ao escrever, você se baseia em coisas importantes para você mesmo. Em 1976, eu tinha mais ou menos a mesma idade dos protagonistas da história. O livro é situado em 76 porque é um ano emblemático da ditadura militar no Brasil, um divisor de águas”, argumenta. O autor lembra que, embora o Brasil já estivesse entrando na abertura política promovida pelo ex-presidente Ernesto Geisel, o período teve a morte do operário Manoel Fiel Filho, do jornalista Vladimir Herzog, em dezembro de 1975, além das mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart em circunstâncias suspeitas, além de perseguições, massacres e protestos. “Nós, adolescentes e pré-adolescentes, enfim, não tínhamos noção disso, noção do País. No livro, este período turbulento do País é um pano de fundo que serve para os protagonistas mostrarem o lado que ficou meio obscuro. Porque eles também não entendem o que está rolando”, conclui.
Fonte – JCNet